Para discutir o desenvolvimento e a desigualdade na América Latina, o professor Luis Bértola, da Universidad de la Republica, do Uruguai, concedeu três palestras-aula na FEAUSP com foco em seu objeto de estudo: a economia latinoamericana. Em sua segunda palestra, o professor falou sobre a desigualdade e heterogeneidade estrutural presentes nos países da América Latina, na tentativa de responder à questão: a América Latina é atrasada porque é desigual ou é desigual por ser atrasada?
O continente possui, hoje, 10 dos 15 países mais desiguais do mundo. Para explicar este fato, de acordo com o professor, é preciso analisar de antemão o que acontece com a desigualdade social quando se aumenta o ingresso do país na economia mundial. Segundo ele, esta relação pode ser explicada pela Curva de Kuznets, que explicita que, no primeiro momento do ingresso na economia globalizada, a desigualdade cresce e atinge altos níveis. Porém, com o passar do tempo, tende a reduzir gradativamente.
Dessa forma, pode-se estabelecer diversas conexões. Primeiro, o paradoxo que é hoje muito constatado nos países em desenvolvimento, em que o Produto Interno Bruto (PIB) é consideravelmente elevado, ao mesmo tempo em que a desigualdade encontra seus mais altos níveis. Além disso, a relação permite esclarecer em que momento a América Latina passou a possuir níveis tão altos em termos de desigualdade social. De acordo com a pesquisa de Luis Bértola, este momento ocorreu durante os booms de globalização, devido à inserção da economia no contexto mundial.
Segundo o professor, “a desigualdade é intrínseca ao capitalismo, porque este deseja acumular o capital. Por isso, cresce a riqueza e cresce a produção, mas não crescem os salários”. As instituições que, de acordo com a pesquisa, carregam intrinsecamente o problema da desigualdade são os mercados financeiros, a globalização e o capital humano.
A pesquisa de Bértola também especifica que uma das razões para que a desigualdade social na América Latina tenha atingido tais níveis é a herança colonial, com as instituições sociais a que deram origem e as limitações do pensamento econômico amplamente voltado para a exportação de bens. “Dessa forma, a desigualdade não é resultado apenas da globalização, mas de uma série de características estruturais muito comuns à realidade latinoamericana”, completa o professor.