O ex-ministro da Fazenda e atualmente consultor econômico, Maílson da Nóbrega, abordou a nova política econômica do Brasil em palestra realizada na FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade). O economista fez elogios e críticas aos critérios econômicos adotados pela gestão atual brasileira e elencou motivos pelos quais acredita que a estruturação da economia brasileira dá certo.
Segundo Nóbrega, a nova política econômica, também chamada de nova matriz, pode ser caracterizada como de juros baixos e um Banco Central mais tolerante à inflação. “O governo acredita que o Brasil tem que ter juros civilizados, que é uma espécie de caminhar em direção aos juros de países ricos”, ressaltou o ex-ministro.
Além disso, enfatizou que o país tem várias distorções estruturais que exigem do Brasil uma taxa de juros mais alta, até mais do que os países vizinhos. De acordo com ele, uma dessas distorções é o fato de que um terço do crédito do país, particularmente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e do Crédito Habitacional, não responde a variações da taxa Selic (taxa básica de juros), porque são constantes e não se alteram.
Outra característica é a expansão maior do crédito pelos bancos oficiais. “Banco do Brasil e Caixa Econômica emprestam mais para expandir o consumo e acelerar a economia. No entanto, a Caixa Econômica não tem estrutura para evitar a forte inadimplência, o que teria que ser ressarcido pelo Tesouro”, ressalta Maílson.
Além disso, o economista citou o controle de preços, a privatização da infraestrutura e o protecionismo econômico. No entanto, mencionou um fator que considera mais crítico: a “criatividade” nas contas públicas para fazer crer que metas foram cumpridas. “Esse fator destrói a confiança do povo nas contas públicas. É uma ‘maquiagem’ que deve ser evitada.”
Apesar dos pontos negativos, o ex-ministro elencou alguns pontos que fazem da política e economia brasileiras fortes e saudáveis. “Temos instituições fundamentais como a democracia, o Judiciário e a imprensa livres e independentes e uma sociedade intolerante à inflação. Tudo isso torna o país previsível, com uma capacidade maior de detecção de erros”, ressaltou.