Os efeitos que o estresse gerado pela convivência com outros animais doentes causa em camundongos são estudados pelo professor João Palermo Neto na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia. A pesquisa, financiada pela Fapesp, insere-se no bojo dos estudos em neuroimunomodulação. Esse termo, segundo o professor, compreende a modulação entre o sistema nervoso central e o sistema imune. Ou seja, são as conexões que se fazem no sentido bidirecional: o sistema nervoso central influenciando o sistema imune e vice-versa.
A observação de que pessoas que acompanham doentes crônicos com câncer, ou Alzheimer, ou demência, quando representadas por pessoas com afinidades afetivas com o enfermo, sejam cônjuges, filhos ou pais, acabam por desenvolverem alterações imunes bastante evidentes surgiu como um precursor do estudo com animais.
O estudo contou com a convivência forçada de camundongos saudáveis com camundongos doentes – injetados com células de um tumor ascítico – em comparação com o grupo de controle, formado pela convivência entre camundongos saudáveis e camundongos saudáveis inoculados apenas com o veículo do tumor. Desse modo, foi observado que os animais que convivem com animais doentes apresentam alterações muito evidentes. Alterações comportamentais, neuroquímicas – níveis de noradrenalina e de dopamina – e no sistema nervoso central. Essas alterações indicam, dessa forma, que estão vivenciando uma situação de estresse.
Evidentemente, explica o professor, não é possível colocar nos animais a empatia que existe no ser humano. A partir daí, então, os estudos buscaram entender os motivos que possibilitavam essas alterações. Foram observadas também alterações imunes muito nítidas em várias circunstâncias, tanto da imunidade nata, quanto da imunidade adquirida.
O passo seguinte nas pesquisas foi isolar os estímulos que os camundongos poderiam receber: tátil, visual e olfativo. Os resultados mostram que o estímulo olfativo seria o mais importante. Essa descoberta abriu novos caminhos, pois, a partir de então, foi possível descobrir que portadores de tumores, produzem, sim, através da urina e do suor, no caso dos seres humanos, e apenas da urina, nos animais, a liberação de algumas substâncias químicas, as quais, para o camundongo, no caso específico estudado, é causa aversão.
O professor explica que agora os estudos tomarão novos rumos, agregando parceiros da clínica humana ou da clínica veterinária. “Ficamos curiosos. Não sabemos a resposta ainda, mas será que um cão cujo proprietário está doente, fica imunodeprimido? Ou se uma família que possui dois cães e um deles está doente, o que não está doente, mas que convive com aquele que está, também fica imunodeprimido?”, questiona-se o docente.