O Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), partindo da necessidade de se abordar o descarte de materiais nocivos no meio ambiente e seus efeitos, incluiu um debate sobre o assunto na II Semana de Inovações Biológicas e Biotécnológicas Aplicadas à Saúde (SIBBAS), um evento busca aproximar a pesquisa da área de saúde às questões da sociedade e à realidade brasileira. A professora Luiziana Ferreira da Silva realizou uma palestra sobre a produção de plásticos biodegradáveis a partir de matérias primas renováveis. Ela é coordenadora do Laboratório de Bioprodutos, que é integrante do ICB.
Os plásticos biodegradáveis em questão são feitos a partir de Polihidroxialcanoatos (PHA), que são, de acordo com Luiziana, “uma classe dos diversos biopolímeros que vem sido estudados como alternativa ambientalmente correta aos plásticos de origem petroquímica”. Ou seja, são poliésteres (grandes moléculas formadas com a condensação de diversas moléculas repetidas e com propriedades plásticas) obtidos de maneira natural, sem a necessidade de utilização de derivados do petróleo.
Processo de fabricação
Os PHAs são obtidos por meio de bactérias. Ao serem cultivadas em um ambiente com abundância de carbono e escassez de outros nutrientes como o fósforo e o nitrogênio, elas acumulam o carbono para ser utilizado como fonte de energia no futuro. Essa acumulação é feita em forma de grânulos, que ficam no organismo dessas bactérias e podem ser extraídos para a fabricação dos bioplásticos.
Importância ambiental
A inovação científica por trás dessa produção tem grande importância na busca por materiais que sejam menos prejudiciais para as pessoas e para a natureza. Luiziana explica que a biocompatibilidade (a capacidade de um material desempenhar uma resposta apropriada numa determinada aplicação com o mínimo possível de danos ao organismo) é uma das propriedades mais importantes no desenvolvimento de novos materiais. Os bioplásticos podem, por exemplo, ser utilizados na fabricação de cápsulas para a ingestão de sais minerais por pessoas com deficiências de dieta, por exemplo.
Além disso, os materiais são biodegradáveis, ou seja, “quando lançados no ambiente, podem ser degradados por outros organismos”, servindo como fontes de carbono para a sobrevivência desses organismos e fazendo parte da cadeia alimentar. Diminui, portanto, o impacto que os produtos utilizados pelo homem têm na natureza.
Viabilidade
A questão envolvida no desenvolvimento dos bioplásticos é a produtividade. Isos porque as bactérias nem sempre utilizam o excesso de carbono para reservas futuras de energia. A acumulação de energia é deixada de lado e o carbono é utilizado para boa criação de novas células, o que desacelera a produção. Para restringir isso, foram desenvolvidas técnicas laboratoriais que mudem o comportamento das bactérias, mas, de maneira geral, ainda existe uma dificuldade.
Brasil e a produção de bioplásticos
O Brasil se encontra em vantagem para a produção desses polímeros. A produção de açúcar e de etanol, que ocorre em grande escala no país, deixa como resíduo o bagaço da cana-de-açúcar. Esse bagaço é um material rico em carbono, que pode ser utilizado para a formação de plásticos biodegradáveis. Essas produções podem ser associadas, formando assim a biorrefinaria, sistema que aproveita melhor a cana de açúcar e suas propriedades.