Como parte da programação da II Semana de Inovações Biológicas e Biotecnológicas Aplicadas à Saúde (SIBBAS), organizada pelo ICB (Instituto de Ciências Biomédicas), aconteceu uma mesa-redonda com a temática do empreendedorismo. Tema considerado importante pela organização do evento, nem sempre é abordado nos cursos da área biológica. No entanto, o ICB considera de extrema importância para os alunos o contato com os ideais de inovação e produtividade.
O evento, que contou com a presença de quatro profissionais ligados ao empreendedorismo e à saúde, visou abranger diferentes pontos de vista sobre o assunto, diversos métodos de empreendedorismo e formas para que os alunos possam entrar em contato com projetos que incentivem essas atitudes. Foram incetivadas palestras de cada convidado, além de um debate posterior às apresentações, que reforçou as ideias apresentadas e contrastou as opiniões.
O primeiro convidado a apresentar suas ideias foi José Antonio Lerosa de Siqueira. Professor da Escola Politécnica, ele defende incessantemente a necessidade de um avanço na busca pelo empreendedorismo.
“Hoje existe uma grande divergência entre o sistema educacional e o setor produtivo”, diz. Essa falha se dá pelo reforço de uma atitude passiva do aluno em relação a sua área de estudo. De acordo com Siqueira, a ênfase na vida acadêmica está nas habilidades cognitivas: preocupa-se, em geral, com o que o aluno consegue decorar e repetir, em detrimento do incentivo das habilidades sociais.
Um dos criadores do centro Minerva - grupo de incentivo ao empreendedorismo na Poli, fundado de 2002 -, Siqueira crê que a exclusão da cultura da proatividade da formação dos alunos de saúde é prejudicial para a vida profissional. Apesar de ser da área de exatas, ele explica que o empreendedorismo é fundamental em qualquer área de estudo e se encontra bastante inferiorizado, especialmente nos cursos relacionados à saúde.
Siqueira também frisa que o empreendedorismo, no Brasil em geral e na USP, encontra-se ainda em estágios iniciais. “Ainda estamos na fase de evangelização”, diz. Essa fase representa a divulgação das ideias e a fixação do empreendedorismo na vida acadêmica e profissional. Como a aceitação desses ideais ainda é fraca e pouco valorizada, é necessário que haja, primeiramente, essa evangelização.
O evento contou também com a presença de Celso Scaraneleo, do Senai. Ele, profissional ligado à capacitação e ao aumento de qualidade dos serviços industriais, acredita no empreendedorismo como uma união de “soluções educacionais e tecnológicas para a indústria”. A ideia aqui é que, a partir de uma proatividade dos profissionais, a inovação no campo industrial tem futuro. E esse modelo funciona também, de acordo com Scaraneleo, para a área de saúde. É preciso, diz ele, que a formação de novos profissionais para o mercado de trabalho envolva também a busca pela inovação.
Oscar Henrique Nunes, do Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (incubadora de projetos de empreendedorismo feita em parceria pela USP com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo e o Sebrae), empreendedorismo é “a transformação de conhecimento em produtos inovadores”. Ou seja, parte-se do princípio que é necessário que um aluno ou profissional se utilize de sua base teórica para a criação de algo novo. É assim, diz Nunes, que há o progresso científico.
Nei Grando é organizador do livro Empreendedorismo Inovador - Como Criar Startups de Tecnologia No Brasil. Ele explica o livro como uma abordagem feita por 25 especialistas sobre as condições e os desafios de se criar um projeto inovador de tecnologia no Brasil. Grando oferece um conselho principal para a realização desses projetos: “Comece primeiro um negócio, não uma empresa”. Isto é, ele enfatiza a importância de se definir os objetivos e as diretrizes do projeto, não a infraestrutura empresarial. Por isso ele considera as incubadoras de extrema importância: “Elas abrigam projetos e ajudam na infraestrutura, para que o foco de trabalho seja o desenvolvimento da ideia em si”.
Grando também discutiu a importância da troca de conhecimento e da interação entre áreas: é fundamental, em sua opinião, que o aluno ou profissional participe sempre de palestras, workshops, debates e eventos. Eles são ferramenta para a troca de ideias e interação entre estudos.
De maneira geral, foi unânime no debate a importância do empreendedorismo na Universidade, na carreira e na sociedade. Todos os convidados incentivaram os alunos a pensar de maneira inovadora e visar o progresso científico.
O empreendedorismo, ainda encontrado sem tanto destaque no estudo universitário, está particularmente rebaixado na área da saúde, onde o foco ainda parece ser os métodos de estudo tradicionais. A falta dessa ênfase é, no entanto, prejudicial para a sociedade como um todo: não havendo visão do avanço, é reduzida a velocidade com que ele acontece. Desta maneira, pode-se ver a relevância de uma discussão sobre o tema na USP. É preciso inserí-lo para que ele se torne parte constituinte da formação.