Descobertas recentes demonstram que a inflamação do Sistema Nervoso Central (SNC) é a provável causa das mudanças neurocognitivas de metade dos indivíduos HIV-positivos em tratamento da aids. Estudo baseado em macacos, que foi apresentado em palestra na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) pela pesquisadora Janice Clements, mostra que existe um reservatório estável de DNA de SIV (Vírus da Imunodeficiência Símia) no SNC.
O projeto do grupo tem o propósito de identificar regiões de latência do HIV para tentativas de um tratamento mais direcionado. O vírus HIV não possui cura justamente por ter essa capacidade de “esconder” o seu material genético nos tecidos mais diversos e de forma que as drogas do tratamento antirretroviral (HAART) não consigam atingi-lo. Encontrar esses reservatórios pode representar avanços para curas funcionais por meio de terapia intensiva.
Janice observou que doenças no SNC só aparecem depois do desenvolvimento da aids, a pessoa infectada com o vírus HIV dificilmente terá o cérebro e a medula lesionados sem que haja a infecção da aids. A equipe de Janice descobriu que com o início da infecção a proteína Chemokine ligante 2 (CCL2) vai até o cérebro e atrai monócitos, linfócitos T e células dendríticas (grupo CD4+, as células de defesa). Na maioria dos casos, esse comportamento é um mecanismo de defesa às infecções protegendo o cérebro de maiores danos, mas em soropositivos essa proteína atrai justamente células infectadas com o HIV, tornando a periferia do SNC uma região de reserva de vírus latentes.
Alguns modelos de tratamento com o coquetel antirretroviral não penetrante no SNC resultaram numa queda do vírus no plasma e no fluido cerebroespiral (CSF) – líquido que circunda o SNC – e impediram aids e lesões cerebrais. O controle desse coquetel é eficiente para conter o vírus na corrente sanguínea e impede que as células de defesa invadam o SNC porque evita a primeira infecção.
Modelos baseados no vírus da imunodeficiência símia (SIV) são importantes porque há maior controle. São propícios para detecção de reservatórios de vírus latentes, como o SNC, de difícil estudo em seres humanos. Proporcionam testes in vivo – com coletas dos materiais (córtex cerebral, medula, entre outros) de espécimes ativas, não apenas cadáveres – e também por haver desenvolvimento da fase aguda da aids mais rapidamente que no ser humano. Os macacos Rhesus levam, em média, de três a cinco anos para o desenvolvimento da imunodeficiência enquanto nos homens o vírus pode levar décadas para se manifestar mantendo o hospedeiro em estado assintomático.
Foi possível observar o desenvolvimento de doenças neurológicas em cobaias (Macaque reshus) com incidências incentivadas de aproximadamente 30% e com desenvolvimento da aids e doenças no SNC em cerca de três meses (devido às altas dosagens de material viral injetados no sangue e CSF), esse grande número de amostras permitiu também um estudo mais fiel. Em seres humanos, a taxa de demência e dificuldades cognitivas grandes ou moderadas associadas a aids é de apenas 3%.