O pesquisador Vinicius Cerezer, do Instituto de Pediatria da FMUSP, caracterizou geneticamente as bactérias Stenotrophomonas maltophilia, de linhagens que geram infecções hospitalares. Ela causa infecções respiratórias em pacientes com baixa imunidade, muitos deles são crianças.
As infecções são de origem comunitária ou hospitalares. As de origem comunitária ocorrem pois a bactéria pode ser encontrada em raízes e caules próximos a fontes de água potável e pela sua microestrutura é capaz de atravessar filtros. Já nos hospitais elas são mais comuns em aparelhos de sucção, cateteres, máquinas de diálise e outros.
Cerezer focou neste assunto devido ao número crescente infecções são quando esses pacientes são submetidos a ventilação mecânica, a antibióticos de amplo espectro ou a procedimentos invasivos. Também atacam pessoas que já tenham com doenças respiratórias. Cerca de 40% das crianças com essa bactéria falecem em hospitais pediátricos.
Um dos problemas da Stenotrophomonas maltophilia é sua alta resistência a drogas. Essa característica é devido principalmente a dois fatores. O primeiro é que ela tem uma variabilidade genética muito grande o que facilita a adaptação a novas condições ambientais. O segundo fator é que ela é capaz de adquirir genes de resistência através de outras bactérias já adaptadas, pelo processo de transferência genética horizontal (TGH), ou seja, de bactérias que não são suas antecessoras.
A pesquisa caracterizou todas as linhagens genéticas da bactéria para compreender melhor seu comportamento, além de verificar a razão das infecções e possíveis métodos de prevenção. Para isso foram utilizadas 47 amostras da Stenotrophomonas que passaram por análises fenótipicas e filogenéticas. O método utilizado se chama Multilocus Sequence Typing (MLST) que compara sequencias de fragmentos de genes essenciais para células bacterianas. Ele tem um grande poder discriminatório, o que permitiu analisar a estrutura da população de Stenotrophomonas usando apenas sete genes.
Uma das conclusões do estudo é que apesar de todos os subgrupos de bactéria serem geneticamente parecidos eles possuem metabolismos diferentes e por isso gera diversas origens de infecção. Também foi confirmado que os isolados tem um DNA altamente flexível e Cerezer identificou os grupos com maior suscetibilidade à transferência genética horizontal, ou seja, que teriam maior resistência à antibióticos.
Um dos resultados importantes com aplicação clínica foi que Cerezer identificou um fragmento de gene que está presente em quase todas as linhagens. Esse fragmento facilitaria no diagnóstico rápido das doenças relacionadas a Stenotrophomonas, pois ele não está presente em muitas bactérias, tendo, portanto, um alto poder discriminador. Com essa descoberta surtos de infecção poderiam ser mais facilmente reconhecidos e controlados com maior rapidez.