São Paulo (AUN - USP) - Extremamente complexo, nosso corpo possui funções e sistemas que a ciência apenas começou a compreender. Entre estes, está a ação dos radicais livres, que podem destruir as células por oxidação, e os compostos antioxidantes, que as protegem. Responsável por estudar essa relação, o professor Luis Eduardo Soares Netto coordena o Laboratório de Biologia Molecular de Antioxidantes e Radicais Livres do Instituto de Biociências (IB) da USP.
Formados naturalmente em nosso organismo, os Radicais Livres são um dos subprodutos da respiração. Na grande maioria das vezes (99,99%), o oxigênio é convertido em água e a glicose, presente nos alimentos, em gás carbônico. Nesse processo, cada molécula de oxigênio recebe quatro elétrons e transforma-se numa de água.
Porém, nos 0,01% restantes, ocorre uma transferência incompleta desses elétrons, o que gera compostos tóxicos ao nosso organismo. Esses compostos reagem livremente com moléculas das células roubando seus elétrons (reação de oxidação) e o mais reativo desses subprodutos de nossa respiração é um radical livre (radical hidroxila).
Ao reagir livremente com nossas moléculas, tais compostos causam lesões significativas, que estão relacionadas com o processo de envelhecimento e com o surgimento do câncer.
Enzimas e vitaminas
Apesar de todo esse potencial destrutivo, as células desenvolveram mecanismos de defesa antioxidantes. Os seres vivos produzem enzimas e outros antioxidantes (como as vitaminas C e E), capazes de decompor os radicais livres e outras moléculas nocivas.
Além disso, a ação das vitaminas ainda auxilia as defesas dos seres vivos. Segundo o professor, “no conceito clássico, as vitaminas apenas aceleram reações bioquímicas, atuando como catalisadoras. Porém, no novo conceito, as vitaminas são ativas e competem com as moléculas da célula pela reação com os radicais livres". Assim, uma dieta rica em vitaminas (frutas e verduras) pode prevenir o envelhecimento precoce e o desenvolvimento do câncer.
Sistema Imunológico
Porém, como tudo possui um outro lado, os compostos oxidantes, como os radicais livres, também podem ser benéficos à nossa saúde. Tanto plantas quanto animais produzem algumas moléculas tóxicas para atacar organismos invasores, que podem causar doenças (patógenos). Esses invasores, por sua vez, também possuem mecanismos antioxidantes de defesa, o que mantém todos os seres vivos numa "corrida armamentista" química através da evolução.
Em seu laboratório, o professor estuda essa relação oxidante - antioxidante na Xylella fastiosa, microorganismo unicelular causador do amarelinho (Cloroce Variegada dos Citrus - CVC), doença que ataca laranjeiras. Essa praga já atingiu 180 milhões de árvores, das quais 50 milhões tiveram de ser destruídas.
O grupo introduz o gene responsável pela defesa da Xylella fastidiosa na bactéria Escherichia coli e através desse processo consegue produzir enzimas com função antioxidante em grande escala. Dessa forma, foi possível caracterizar bioquimicamente, pela primeira vez, o papel de uma nova classe de enzimas antioxidantes. Com esse tipo de conhecimento em mãos, existe a possibilidade de achar inibidores para essas enzimas de defesa dos patógenos invasores, tornando-os mais vulneráveis aos radicais livres gerados pelas plantas.
Dessa forma, podemos compreender melhor como funcionam os mecanismos de ataque e defesa que atuam em escala celular, o que possui grande potencial na prevenção de doenças, seja o infectado um vegetal ou um animal, incluindo aí seres humanos.