ISSN 2359-5191

01/12/2004 - Ano: 37 - Edição Nº: 21 - Saúde - Instituto de Biociências
Radicais livres possuem grande potencial médico
O entendimento da ampla ação de tais compostos tóxicos pode ajudar a prevenir doenças, superar o câncer e até mesmo retardar o envelhecimento

São Paulo (AUN - USP) - Extremamente complexo, nosso corpo possui funções e sistemas que a ciência apenas começou a compreender. Entre estes, está a ação dos radicais livres, que podem destruir as células por oxidação, e os compostos antioxidantes, que as protegem. Responsável por estudar essa relação, o professor Luis Eduardo Soares Netto coordena o Laboratório de Biologia Molecular de Antioxidantes e Radicais Livres do Instituto de Biociências (IB) da USP.

Formados naturalmente em nosso organismo, os Radicais Livres são um dos subprodutos da respiração. Na grande maioria das vezes (99,99%), o oxigênio é convertido em água e a glicose, presente nos alimentos, em gás carbônico. Nesse processo, cada molécula de oxigênio recebe quatro elétrons e transforma-se numa de água.

Porém, nos 0,01% restantes, ocorre uma transferência incompleta desses elétrons, o que gera compostos tóxicos ao nosso organismo. Esses compostos reagem livremente com moléculas das células roubando seus elétrons (reação de oxidação) e o mais reativo desses subprodutos de nossa respiração é um radical livre (radical hidroxila).

Ao reagir livremente com nossas moléculas, tais compostos causam lesões significativas, que estão relacionadas com o processo de envelhecimento e com o surgimento do câncer.

Enzimas e vitaminas

Apesar de todo esse potencial destrutivo, as células desenvolveram mecanismos de defesa antioxidantes. Os seres vivos produzem enzimas e outros antioxidantes (como as vitaminas C e E), capazes de decompor os radicais livres e outras moléculas nocivas.

Além disso, a ação das vitaminas ainda auxilia as defesas dos seres vivos. Segundo o professor, “no conceito clássico, as vitaminas apenas aceleram reações bioquímicas, atuando como catalisadoras. Porém, no novo conceito, as vitaminas são ativas e competem com as moléculas da célula pela reação com os radicais livres". Assim, uma dieta rica em vitaminas (frutas e verduras) pode prevenir o envelhecimento precoce e o desenvolvimento do câncer.

Sistema Imunológico

Porém, como tudo possui um outro lado, os compostos oxidantes, como os radicais livres, também podem ser benéficos à nossa saúde. Tanto plantas quanto animais produzem algumas moléculas tóxicas para atacar organismos invasores, que podem causar doenças (patógenos). Esses invasores, por sua vez, também possuem mecanismos antioxidantes de defesa, o que mantém todos os seres vivos numa "corrida armamentista" química através da evolução.

Em seu laboratório, o professor estuda essa relação oxidante - antioxidante na Xylella fastiosa, microorganismo unicelular causador do amarelinho (Cloroce Variegada dos Citrus - CVC), doença que ataca laranjeiras. Essa praga já atingiu 180 milhões de árvores, das quais 50 milhões tiveram de ser destruídas.

O grupo introduz o gene responsável pela defesa da Xylella fastidiosa na bactéria Escherichia coli e através desse processo consegue produzir enzimas com função antioxidante em grande escala. Dessa forma, foi possível caracterizar bioquimicamente, pela primeira vez, o papel de uma nova classe de enzimas antioxidantes. Com esse tipo de conhecimento em mãos, existe a possibilidade de achar inibidores para essas enzimas de defesa dos patógenos invasores, tornando-os mais vulneráveis aos radicais livres gerados pelas plantas.

Dessa forma, podemos compreender melhor como funcionam os mecanismos de ataque e defesa que atuam em escala celular, o que possui grande potencial na prevenção de doenças, seja o infectado um vegetal ou um animal, incluindo aí seres humanos.

Leia também...
Nesta Edição
Destaques

Educação básica é alvo de livros organizados por pesquisadores uspianos

Pesquisa testa software que melhora habilidades fundamentais para o bom desempenho escolar

Pesquisa avalia influência de supermercados na compra de alimentos ultraprocessados

Edições Anteriores
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br