ISSN 2359-5191

01/12/2004 - Ano: 37 - Edição Nº: 21 - Saúde - Faculdade de Medicina
Estimulação magnética melhora evolução do tratamento de depressão
De acordo com pesquisas realizadas na Faculdade de Medicina da USP, o uso dessa técnica permite uma reação mais rápida de pacientes com depressão grave à amitriptilina.

São Paulo (AUN - USP) - A depressão é uma condição médica dita crônica e recorrente, freqüentemente associada à incapacitação profissional e ao comprometimento da saúde física. Estimada como a quarta causa específica de incapacitação nos anos 90, e com a previsão assustadora de se tornar, em 2020, a segunda em países desenvolvidos e a primeira em países em desenvolvimento, é um transtorno freqüente, atingindo, em países ocidentais, de 3 a 11% da população. Quando estudada em relação a pacientes de outras enfermidades, atinge até um terço da população, em relação àqueles internados. É além de tudo uma doença que diferencia o sexo, sendo mais comum em mulheres do que em homens, conforme dados coletados na tese “Estimulação magnética transcraniana de repetição: potencializando o efeito de antidepressivos”, defendida por Demetrio Ortega Rumi, em seu doutoramento.

O impacto social da depressão inclui tanto a incapacidade individual como a sobrecarga familiar associada à doença. Os custos para a sociedade, traduzidos em gastos com assistência médica, tempo de trabalho perdido, gastos trabalhistas e previdenciários, fazem com que o tratamento deste mal constitua matéria de interesse não apenas médico, mas também das esferas sociais e econômicas.

Apesar de considerados crônicos, os transtornos depressivos são condições tratáveis, e as opções terapêuticas aumentaram consideravelmente nos últimos 25 anos. Porém os procedimentos clínicos para se potencializar uma resposta antidepressiva podem se tornar complexos, custosos e demorados, e mesmo assim com um grande ônus aos doentes, aos familiares e à sociedade.

A estimulação magnética no tratamento da depressão

A Estimulação Magnética Transcraniana (EMT) é um método não invasivo de investigação e modulação da excitabilidade do córtex cerebral. Altera a atividade cortical a partir de um campo elétrico induzido por um campo magnético, gerado por uma bobina colocada na superfície do crânio, e é aplicada, através de repetição (EMTr), como uma alternativa ao uso da estimulação elétrica nas investigações neurológicas, que costumam causar dor aos pacientes. Desde sua adoção como instrumento de investigação, pesquisadores se perguntam se a EMTr poderia ser utilizada no tratamento de transtornos neurológicos ou psiquiátricos, entre eles a depressão.

Entre as aplicações potenciais da EMTr na psiquiatria, a depressão é estudada com maior intensidade. Sendo uma intervenção focalizada em pontos específicos do córtex cerebral, oferece a possibilidade de atingir regiões determinantes do quadro depressivo, que variam de caso a caso. Supõe-se ainda que o efeito da EMTr sobre a região visada normalize a atividade no circuito, com alterações que persistam por períodos relativamente longos, como comprovado em estudos da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).

A pesquisa

O pesquisador Demetrio Ortega Rumi, ligado a FMUSP, realizou um estudo para verificar se a EMTr acelerava a resposta terapêutica ao antidepressivo amitriptilina, droga considerada "padrão ouro" no tratamento da depressão, por apresentar boa resposta da maioria dos pacientes. Além desta vantagem, a amitriptilina se encontra disponível no sistema público de saúde, sendo bastante utilizada entre os doentes.

O estudo contou com um total de 50 pacientes que preenchiam critérios diagnósticos para episódio depressivo, aleatoriamente distribuídos em dois grupos. Um grupo recebeu a amitriptilina e a estimulação EMTr, enquanto o outro recebeu o antidepressivo e uma estimulação placebo (sham). Os estudos foram realizados num período de sete semanas, e tanto o EMTr quanto o sham foram aplicados durante quatro semanas. Nestas quatro semanas, foram aplicadas sessões de 25 séries diárias, com intervalos de 10 segundos entre cada série, cinco dias por semana. O estudo tratou pacientes com doses médias de 110 mg/dia de amitriptilina, havendo variação na quantidade aplicada a cada um.

Para a confiabilidade nos resultados, é importante considerar que se utilizou um único antidepressivo, já que a maioria dos estudos realizados até então utilizou drogas variadas e com diversas dosagens, características que dificultam a avaliação dos resultados. Na avaliação há de se levar em conta ainda que todas as medidas de eficácia e tolerabilidade do tratamento foram medidas por avaliadores cegos para o tipo de tratamento recebido pelo paciente, o que, somado ao uso de uma bobina placebo, minimizou vieses no resultado.

Os resultados

Dos 50 pacientes iniciais, 46 completaram quatro semanas de estudo e 23 chegaram a sete semanas. Concluiu-se que a EMTr a 5 hertz acelera e aumenta significativamente a resposta à amitriptilina em pacientes com depressão grave, de ambos os sexos. Foi observada ainda uma diminuição significativa dos indicadores de depressão já na primeira semana de tratamento.

A EMTr não apenas acelerou o tempo para o início da resposta antidepressiva, como também aumentou sua intensidade, de maneira sustentada, mesmo após o término das aplicações. Não houve, ainda, diferença estatisticamente significativa a partir da 5ª e 7ª semanas entre os dois grupos estudados, o que possivelmente reflete o fato de que o grupo EMTr apresentou mudanças menores a partir da 5ª semana, uma vez que a melhoria foi obtida mais rápido que no grupo sham. Em seus estudos, Rumi se muniu de cinco escalas diferentes de quadros depressivos (HAM-D, MADRS, EVA, CGI-gravidade e CGI-melhora), para embasar e analisar os resultados encontrados, identificando na EMTr um procedimento seguro, bem aceito e bem tolerado pelos pacientes.

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