Em palestra no Instituto de Psicologia (IP) da USP, o antropólogo Daniel Pícaro, que analisou os estudiosos de extraterrestres em sua dissertação de mestrado, apontou que tais seres possuem um processo de evolução muito mais complexo que o humano e estariam, inclusive, visitando a Terra para aconselhar os homens sobre como viver melhor e cuidar de seu planeta. Para justificar esta ideia, ele explica que a antropologia constrói o conhecimento por meio da perspectiva daqueles que se propõe a estudar, parte da premissa de que “aquilo o que seus nativos estão falando é algo que existe”. Neste caso, aqueles que estudam o fenômeno extraterrestre foram os nativos de Pícaro.
A padronização nos relatos relacionados à aparição de extraterrestres permeou a apresentação de Pícaro no evento Alienígenas na universidade: perspectivas acadêmicas sobre a busca de vida fora da Terra. O antropólogo afirma que, ao se estudar os sumérios, os egípcios, além das civilizações maia, inca e asteca, constata-se que há recorrente representação de seres extraterrestres frequentando a Terra.
Segundo ele, na Idade Média, por exemplo, as pessoas não estavam evoluídas o suficiente para entender o que estes fenômenos representavam ou a superioridade tecnológica de que dispunham. Então, elas viam um “significante zero”, aquilo que está pronto para ser denotado, e identificavam como “Jesus, Espírito Santo, milagre”. Ele diz que, como já superamos este tempo, devemos ser capazes de entender que “seres mais evoluídos estão visitando o nosso planeta”.
Tendo em vista a ideia de óvni, o antropólogo afirma que a ciência atribui uma série de explicações racionais para este fenômeno, identificando-o como um satélite, um cometa, “qualquer coisa que não seja um disco voador”. Diante disso, a ufologia científica apontaria que, embora a maior parte das aparições realmente consista em satélites e fenômenos meteorológicos, “tem uma ‘partezinha’ lá que a ciência não explica”, e este campo se propõe, então, a analisá-la.
A partir daí, “tenta-se descobrir o que isto é; tira-se foto, estuda-se a luz, vê-se a incidência”, para se construir um conhecimento metódico e legitimamente científico. O mesmo faria a ufologia mística, porém por meio de outros métodos próprios (como entrevistas e visitas ao local do ocorrido). Mas a ideia de evolução está presente nestes dois campos, que possuem discurso afirmativo, “autonomia no método”.
A cultura ocidental, conforme Pícaro, toma o seu próprio conhecimento como o único verdadeiro, já que dispõe de avançados métodos científicos, “sabemos por que somos ocidentais, científicos, racionais”, em detrimento do conhecimento produzido por não ocidentais, que, dentro desta cultura, “não sabem, apenas acham que sabem”. O pesquisador argumenta que a antropologia pretende diluir este conceito enraizado e considerar o discurso de pessoas que estão dizendo algo diferente.