O evento Alienígenas na Universidade: perspectivas acadêmicas sobre a vida fora da Terra, que ocorreu no Instituto de Psicologia (IP) da USP, entre seus convidados, contou com a presença do pesquisador Rafael Antunes, cuja pesquisa de doutorado, em desenvolvimento, dedica-se a estudar “a produção da ciência ufológica”. Antunes abordou em sua apresentação o modo como a antropologia vem lidando com o tema do extraordinário e o caso ufológico de Colares, no Pará, considerado um dos mais relevantes pelos ufólogos. O pesquisador tem frequentado congressos sobre o tema e tido contato com ufólogos de todo o país.
Antunes fez um breve histórico do aparecimento da questão do extraordinário na antropologia. Ele explica que tudo começou com o antropólogo Edward Tylor, que tratou do assunto em seu livro Notas sobre o espiritualismo. Neste livro, Tylor fala sobre a questão das mesas girantes – fenômenos aos quais se alegaram depois natureza mediúnica –, dando o veredito de “impostura” ao caso. O pesquisador afirma que hoje se tenta rechaçar esta visão de Tylor, que “registra o contato com o extraordinário na qualidade de uma impostura, de um embuto”. Ele atenta que esta é uma posição do século XIX.
Antunes fala também sobre o antropólogo Evans-Pritchard que em Bruxaria, oráculos e magia entre os Azande, relata que durante um trabalho em campo com os Azande, que lidam com a ideia de bruxaria, ele viu uma luz passando, classificada por esta cultura como feitiçaria. Diante disso, Evans-Pritchard classifica a visão desta luz como uma verdade, mas uma verdade relativa à cultura Azende, ou seja, ele só viu a tal luz por estar entre os Azande. Sendo assim, com estes dois antropólogos, britânicos, Antunes apresenta duas soluções para o problema do encontro com o extraordinário em campo, no entanto não se posiciona de acordo com nenhuma delas.
Para o pesquisador, não dá para atribuir uma racionalização àquilo o que se vê em campo. “Eu vejo uma luz passando, eu não tenho condições de dizer que aquilo é efeito, alucinação ou qualquer coisa do gênero”, afirma.
Caso Colares
Em relação a este importante caso ufológico, Rafael Antunes explica que os óvnis conhecidos como chupa-chupa, que teriam atacado os nativos, são uma categoria própria da ilha de Colares e da região do nordeste do Pará. Ele diz que tem adotado, diante das narrativas que envolvem discos voadores e demais entidades alienígenas, uma atitude que recusa substituir explicações nativas por uma “pretensa explicação” de cientista social, mesmo que esta seja calculada a partir de diferentes conceitos. Assim, “se vou entrevistar um ribeirinho na região do Salgado, no nordeste do Pará, e ele me diz ‘olha, uma luz me atacou no pescoço’, não vou tentar procurar explicações outras [para o caso], vou levar a sério a afirmação do meu interlocutor”, explica.
Ele conta que, aproximadamente na década de 1970, moradores de Colares começaram a reportar à prefeitura local que estavam sendo atacados por luzes vindas do céu, que atingiam o seio esquerdo, no caso das mulheres e o pescoço, no dos homens. Na medida em que os ataques iam acontecendo, as pessoas organizavam vigílias noturnas e outras espécies de patrulhas para espantar os ataques, segundo o pesquisador. Ele afirma que as próprias vítimas não definiam o chupa-chupa como alienígena, apenas apontavam que eram atacadas por uma luz. Os efeitos sobre as pessoas como crise nervosa, tonturas, queimaduras de primeiro-grau, cefaleia, entre outros sintomas, registrados por médicos, são apontados por Antunes.
No entanto, ele atenta para o tratamento dado ao caso em relatório feito por uma junta militar, que diante de investigação do fenômeno, mesmo em vista dos depoimentos e evidências apresentados, apontou o baixo índice socioeconômico e cultural das pessoas na região, “aliados à crendice e formação simples”, além do "consumo desregulado de bebidas", como justificativas para o caso. Antunes direciona-se para o comportamento dos militares, que utilizam “hipótese psicossocial” para dar conta dos fenômenos, o que acaba simplificando a discussão.
O pesquisador diz, quanto à existência de extraterrestres, que eles existem na medida em que provocam diferença, modificação. Deste modo, ele aponta a ideia de que “as entidades existem na sua ação”. Em relação a seu estudo do caso Colares, ele diz que, ao se perguntar o que é um caso ufológico, em sua opinião e por meio das entrevistas e conversas que realizou, inferiu que o caso Colares é tomado como “o caso ufológico” ao qual se reputa a maior importância no contexto brasileiro.