Zulema Abraham, professora associada ao núcleo de radioastronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (IAG), teve sua pesquisa de vários anos de mapeamento da Via Láctea bastante beneficiada com a inauguração do Alma (Atacama Large Millimeter Array), um radiotelescópio de 66 antenas no meio do deserto chileno.
O radiotelescópio, oficialmente inaugurado em março desse ano, já providenciou ao grupo em maio de 2012 a primeira imagem de ETA Carinae – um sistema binário (formado por duas estrelas, uma três vezes maior que a outra) localizado a 7.500 anos-luz da Terra com mais de 5 milhões de vezes o tamanho do Sol. O grupo foi um dos poucos a terem o privilégio de trabalhar na chamada fase zero do projeto. A estrela, só visível do hemisfério sul, começou a ser efetivamente mapeada em novembro de 2012 com 23 das 66 antenas do Alma.
Essas leituras servem de complementação ao projeto já iniciado pela professora com o radiotelescópio de Itapetinga, em Atibaia no interior de São Paulo, onde fazia leituras com comprimentos de onda relativamente altos. O Alma, combinando dados de todas as antenas, funciona como um único radiotelescópio de 16 quilômetros o que permite leituras de melhores resoluções e em comprimentos de onda nunca antes usados (de até 0,454 mm, o menor comprimento alcançado). As leituras mostraram uma estrutura fortemente compactada que coincidia com a posição do sistema binário especulada com as leituras anteriores.
ETA Carinae intriga muitos astrônomos, suas proporções exorbitantes a tornam muito instável. Em 1843, a estrela ejetou uma nuvem de poeira 500 vezes maior que o Sistema Solar em uma única erupção. Essa poeira muito densa impede as visualizações ópticas constantes. Por isso, as ondas de rádio são de grande importância nesse caso. Com um grande número de antenas fazendo leituras simultâneas é possível conseguir uma imagem bastante nítida do gás ao entorno da estrela que possibilitará a medição dessa região.
Além dessa pesquisa, o grupo de radioastronomia publicou no final de 2012 os resultados obtidos de seis anos de observações do centro da nossa galáxia. O estudo principal foi o entorno do buraco negro supermassivo da Via-Láctea. Observando as ondas de rádio das nuvens em seu entorno é possível estimar o tamanho dele pelo horizonte entre as emissões variáveis, muito próximas do corpo do buraco negro, e as fortemente constantes.
Zulema é também vice-coordenadora do projeto LLAMA (Long Latin-American Milimiter Array), um projeto binacional (Brasil e Argentina) de construção de uma única antena de radiotelescópio no deserto do Atacama argentino a cerca de 150-200 quilômetros do Alma, previsto para 2016.