Números indicam que dois terços das mortes na população HIV-positiva em tratamento do Havaí (2568 casos em 2011) não estão diretamente relacionadas à aids, mas sim à outras morbidades. Lishomwa Ndhlovu, pesquisador da universidade daquele estado norte-americano, apresentou em palestra os dados coletados dessa comunidade soropositiva na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).
O grupo soropositivo possui acesso ao tratamento intensivo com o coquetel antirretroviral (HAART) que aparentemente proporciona uma qualidade de vida similar a de não infectados. Mesmo ignorando falhas no tratamento (admitindo casos onde ele é totalmente efetivo) ainda existe uma mortalidade maior nesse grupo do que na média da população. Doenças cardíacas, osteoporose, cânceres não relacionados à aids, hepatite C, entre outros, são os causadores da maior parte das mortes entre os infectados com o vírus HIV. Lishomwa analisou, entre outros motivos, o estilo de vida dessa parte da população, que é muitas vezes deixado de lado nesse tipo de pesquisa; a grande maioria dos soropositivos é fumante, ingerem álcool, drogas ilícitas e está sujeita a outras DSTs que lesionam a sua saúde geral.
Contando com um grupo único de pacientes de idades mais elevadas que havia iniciado o tratamento HAART logo no começo da infecção (o que já evita a primeira queda das células de defesa que pudesse lesar os pacientes), o estudo descobriu que dentre as diversas morbidades paralelas à infecção estavam não só os fatores relacionados ao estilo de vida, como efeitos colaterais das drogas do tratamento e efeitos diretos e indiretos do vírus HIV no organismo.
A simples presença HIV no organismo lesiona a ativação das células de defesa. Mesmo com uma contagem de células equivalente à pacientes saudáveis, a resposta a outros agentes externos não tinha a mesma eficácia. Lishomwa descobriu que o HIV causava uma alteração na molécula CD8 (molécula da membrana lipoprotéica que serve como coreceptor da célula T) mesmo sem infectar a célula, ou seja, essas células tinham sua função de reconhecimento de antígenos prejudicada. Assim, os sujeitos acabavam ficando menos resistentes. Há também a presença do RNA viral nos tecidos que já compreende uma lesão direta aos órgãos.
Contudo, as drogas ainda podiam ser as responsáveis pela osteoporose, doenças cardíacas, cirrose, doenças renais e possível influência na disfunção neurocognitiva por facilitar a penetração de substâncias no Sistema Nervoso Central, mecanismo para aumentar as defesas da região.
Como grupo de risco, os soropositivos devem estar atentos aos outros males e não apenas ao acompanhamento por contagem das células CD4+ (células T, monócitos, macrófagos e células dedríticas), destaca Lishomwa. Exames de rotina devem ser feitos com mais frequência por esse grupo que, hoje, adquire uma condição crônica da doença pelo advento do tratamento.