ISSN 2359-5191

12/08/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 62 - Arte e Cultura - Instituto de Estudos Avançados
Artista transmídia defende quebra de paradigma para aliar crítica e cultura digital

A iniciativa  de abordar cinema e teoria crítica  sob a perspectiva contemporânea da cultura digital deu origem ao seminário “Teoria crítica, cultura digital, cinema expandido” no Instituto de Estudos Avançados da USP. O evento vem problematizar, entre outras questões, a concepção de arte e artista na era digital e propôs a ruptura de certos paradigmas da tradição crítica e cinematográfica. 

As exposições, mediadas por Massimo Canevacci, professor convidado do IEA, se apresentaram em formatos distintos. Marilia Mello Pisani, professora da Universidade Federal do ABC (UFABC), realizou uma explanação teórica, e repleta de referências características da elaboração do discurso acadêmico. Indo ao encontro de suas conclusões e proposições, mas por meio de uma fala provocativa e poética, Pedro Paulo Rocha, da Rede Tranzmídias – uma rede de artistas multiplataforma – criticou posturas que acabam sendo entraves para a “nova era”, como o academicismo que, segundo ele, abre uma fissura entre a teoria e os movimentos artísticos, com a qual o Brasil já sofria muito antes dos meios digitais.

O artista convidado Pedro Paulo Rocha trouxe – além de expor seus trabalhos de “tranzcinema” – a contemporaneidade, que deve estar presente no olhar da crítica, ao cerne de sua fala fragmentada e incisiva. Rocha afirma que a comunicação é capaz de conjugar o experimental e o teórico e que a sociedade está quebrando as barreiras do disciplinar, ao romper com as formas de representação. Segundo ele, a internet tem trazido um elemento cultural profundamente disruptivo, e defende, através disso, um combate à norma semiótica. A respeito do meio virtual, lembra que o pensamento é, em si mesmo, virtual, e que essa característica confere liberdade e lugar de invenção. Para ele, não é contraditório dizer que o meio virtual reafirma o corpo [de quem nele atua], e o compara a um grito fora da tela.
 


Pedro Paulo Rocha critica a teoria acadêmica e a indústria, na sua visão responsáveis por transformar a arte em objeto estratificado e sagrado, escondendo-o. Opina que no Brasil, vive-se uma “cultura de salão”, institucionalizada, na qual a arte é ensinada “pelas máfias” protegidas no que caracteriza como uma trincheira acadêmica, alheia à “guerrilha estética” que a cultura digital articula. Em oposição a este cenário, ser transmídia seria trocar estes lugares convencionais, atuar perifericamente, contra uma política cultural burocrática e autoritária, que rejeita tudo quanto está em sua margem. Sobre isso, garante: “O mercado cultural é uma ilha, a borda é muito maior”, e defende que em vez de ocupar o centro, se expanda a borda. Como antídoto a todos esses males e meio conciliação entre teoria crítica e os novos meios de confeccionar a sétima arte, seria necessário apostar antes na fluidez e na desconstrução do que em um modelo. 

A acadêmica problematizou o lugar da obra de arte neste cenário interativo, já que ele modifica a relação de autenticidade e, portanto, a noção de autor, além de agir sobre a própria sensibilidade de quem a percebe. Diante de uma alteração tão fundamental, isto é, na própria percepção da arte, propõe a revisão dos critérios críticos, deixando “que os objetos falem por si”. Somente através disso, em oposição à tentativa de conformá-los a categorias prontas (pensadas para paradigmas em transformação), é que ela acredita que se possa aliar crítica e cultura digital.

 

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