Equipe de astrônomos do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, juntamente com mais 12 pesquisadores de vários países, encontraram uma estrela muito similar ao Sol. A Hipparcos 102152, como é chamada pelos cientistas, fica a 250 anos-luz da Terra, na constelação de Capricórnio, e possui massa e composição química praticamente idênticas à solar. A grande diferença entre as duas está na idade. HIPP 102152 já tem 8,2 bilhões de anos, quase o dobro do Sol, que possui aproximadamente 4,6 bilhões de anos.
A quantidade do elemento químico lítio encontrado na estrela é destaque na pesquisa. Ela é baixa se comparada com aquela existente em meteoritos e outros corpos rochosos, assim como ocorre com a estrela de nosso sistema. Durante décadas a baixa concentração de lítio no Sol foi um mistério para os cientistas, que ignoravam os motivos da estrela possuir uma concentração 160 vezes menor do elemento. O fato da HIP 102132 também possuir uma quantidade pequena indica que, com o passar do tempo, o montante de lítio na composição dessas estrelas vai diminuindo, ou seja, quanto mais antigo o corpo celeste, menor a concentração do elemento químico. A quantidade de lítio pode ser utilizada como um medidor da idade das estrelas, grandeza que é atualmente de difícil medição.
O lítio presente nas estrelas se transforma em outros elementos. O Sol, por exemplo, possui apenas cerca de 1% da quantidade de lítio que havia em seu momento de formação. A descoberta é essencial para o avanço do conhecimento sobre a física desses astros.
Parceria fundamental
A pesquisa só foi possível graças a uma parceria com o Observatório Europeu do Sul (ESO), agência internacional formada por 14 países que fomenta a pesquisa em astronomia. Foram utilizados dois telescópios localizados no Chile, com destaque para o Very Large Telescope (VLT), o instrumento ótico mais avançado do mundo. O aparelho funciona com uma junção de quatro telescópios, que também podem ser usados separadamente. A equipe da pesquisa utilizou o aparelho para observação durante 40 noites desde 2011.
Para depreender as características químicas da estrela foi utilizada a técnica de espectroscopia, feita com a decomposição da luz enviada pela estrela. No espectro dessa luz estão os indícios da composição química, temperatura e massa do astro. É possível ainda detectar a presença de outros corpos celestes próximos à estrela, já que estes alteram o seu campo gravitacional.
Possíveis planetas
O fato da HIP 102132 ser parecida com o nosso Sol também significa que ao seu redor pode existir um sistema similar ao nosso, com planetas parecidos com a Terra. Baixas quantidades de elementos químicos em estrelas podem ser indícios de que outros corpos celestes foram formados a partir delas. A quantidade de determinados elementos que foram subtraídos das estrelas é proporcional àquela encontrada em outros corpos celestes que teriam se derivado delas.
Porém, a existência desses planetas ainda não foi comprovada, já que astros de tamanho similar à Terra são relativamente pequenos e não podem ser identificados pela tecnologia utilizada até o momento. O próximo objetivo da pesquisa, que continua até 2015, é “encontrar estrelas ainda mais antigas, ou mais novas, para estudar os processos de transporte e a evolução desses astros”, afirma Jorge Meléndez, líder da equipe e astrônomo do IAG. A pesquisa vai continuar até 2015 buscando outras estrelas similares ao Sol. Se a tecnologia se desenvolver, possíveis planetas menores poderão ser encontrados.
Dê um nome para a estrela
Para divulgar a descoberta da estrela, o IAG está realizando um concurso cultural para nomear o astro. Até o dia 1º de outubro serão aceitas sugestões de nomes informais, uma vez que a nomeação científica da estrela será mantida. Também é preciso enviar uma história, real ou inventada, sobre o corpo celeste recém-descoberto. O link para a ficha de resposta está na página do concurso (http://www.iag.usp.br/astronomia/gemeosolar), juntamente com as instruções detalhadas. Três sugestões serão premiadas.