Treinar cães abandonados auxilia no processo de adaptação desses animais a uma nova família. Foi o que Paula de Carvalho Papa, professora da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), mostrou em pesquisa que mediu os níveis de estresse de cachorros do Centro de Zoonoses de Guarulhos.
Para Paula, “O ideal seria que todos os cachorros dos abrigos fossem adotados. Então resolvemos medir o nível de estresse desses animais quando eles chegavam ao local e instituir um programa de treinamento para os cães de forma que houvesse uma convivência maior com os seres humanos.”. Em 2008, foi aprovada uma lei que impede que os centros de zoonoses do estado de São Paulo pratiquem eutanásia de animais saudáveis. Com isso, os centros ficaram superlotados e não recolhem mais bichos de rua a menos que seja comprovado que os mesmos ficaram agressivos.
Treinamento e readaptação
Os animais foram divididos em três grupos: cachorros do Centro de Zoonoses que receberam um treinamento básico, cães abandonados com o tratamento padrão do abrigo e o grupo de controle, de animais com dono. As atividades duraram dez dias nos quais os animais passavam uma hora por dia aprendendo cinco comandos básicos: sentar, deitar, ficar junto, dar a pata e vir.
Durante esse período, foram medidos os níveis de cortisol e citocina na saliva dos cachorros. O primeiro hormônio indica um estresse crônico no animal e o segundo é indicador de estresse agudo. Conforme os animais recebiam treinamento, foi percebido que os níveis desses hormônios diminuíram de forma que ficaram mais próximos do grupo com donos. Por outro lado, os animais que não receberam treinamento estavam sujeitos a elevações maiores de hormônios.
Quando foram adotados, os animais treinados não tiveram elevações hormonais. Já os sem treinamento apresentaram mais um período de estresse, pois precisavam se adaptar a um novo ambiente e a convivência com seres humanos. "O que costuma acontecer é que as famílias adotam e devolvem por, entre outros fatores, falta de compatibilidade", informa Paula. "Do grupo não treinado, 20% dos animais foram devolvidos, mas do grupo que recebeu o treinamento, não houve reabandono.”
Propostas futuras
A pesquisadora pretende realizar um projeto piloto no canil da USP que terá início em setembro. “A gente pretende sugerir alguns procedimentos dentro dos abrigos para aumentar o bem-estar dos animais e para que haja um aceitamento maior na nova família”, conta. A metodologia usada no Centro de Zoonoses de Guarulhos será repetida nos cães do abrigo da Universidade e, se os resultados forem os semelhantes, a ideia é realizar uma proposta mais abrangente, em nível municipal ou estadual.
Para Paula, o mais importante é realizar ações educativas para ensinar a população a lidar com os animais. A professora coordena também o projeto Santuário, que une atividade clínica e epidemiológica com atividades com intuito de ensinar a população como lidar com seus bichos de estimação.
Mais informações sobre o projeto: santuario.vet@gmail.com