São Paulo (AUN - USP) - O professor Brito Cruz, reitor da Unicamp e pesquisador de Física Experimental, criticou duas posições sobre a universidade, que chama de utilitaristas. Uma vê na universidade o potencial de desenvolver produtos e tecnologias para empresas; a outra deseja que a universidade trabalhe para gerar desenvolvimento social. Ambas cobram da universidade contribuições que ela pode oferecer, mas que não são de sua natureza. “O erro está em empurrar tudo para a responsabilidade da universidade”, afirmou em encontro da primeira Temática Semestral do Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP).
O quarto encontro, ocorrido no dia 29 de novembro, encerrou as atividades neste ano sobre “Os desafios do ensino superior”. A temática semestral será retomada em março do ano que vem, com as conferências de Franklin Leopoldo e Silva, Francisco César de Sá Barreto, Jacques Marcovitch e Jacques Veloso e um workshop em abril.
Para o reitor da Unicamp, as universidades são um lugar especial de trabalho responsáveis por formar e educar pessoas para trabalhar com conhecimento. As universidades ajudam de uma forma indireta, através da formação de especialistas que trabalham com desenvolvimento de pesquisas aplicadas e tecnologia fora das universidades. O contato entre universidades e empresas ocorre quando estas querem estimar as possibilidades da ciência a médio e longo prazo e, então, planejarem o desenvolvimento de produtos e serviços.
As empresas financiam aquilo do que poderão se apropriar e o Estado custeia a chamada ciência básica, fundamentadora de pesquisas posteriores. Segundo dados que apresentou, nenhum país investe mais de 0,8% do seu PIB (Produto Interno Bruto) em pesquisas. No Brasil este percentual é de 0,6% aproximadamente.
Os limites da produção científica financiada pelo governo não são rígidos. Brito aponta que nos últimos 24 anos o número de doutores titulados por ano aumentou 12%, enquanto o crescimento econômico foi de 2%, um “descompasso”. A ciência brasileira se destacou nas publicações internacionais nos últimos 15 anos. Porém, essa produção, que ganhou fama, está concentrada em 15 universidades, com a USP em primeiro lugar e a Unicamp em segundo.
Quanto às patentes, vistas por alguns como uma saída à inconstância do financiamento público, Brito diz que são necessárias e cabem às indústrias as quais investem em desenvolvimento tecnológico. Eventualmente as universidades podem patentear os frutos de suas pesquisas, mas não para gerar receita, afirma. Na explicação de Brito Cruz, nelas não se pode “apostar a saúde financeira da instituição”, pois nem sempre geram ganhos financeiros significativos.