São Paulo (AUN - USP) - As mesmas técnicas de fertilização in vitro utilizadas na formação de bebês de proveta ou em processos de clonagem servem também para aumentar a população de animais silvestres em perigo de extinção. Ciente disso, a pesquisadora Regina Célia Rodrigues da Paz, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ-USP), verificou que um hormônio humano – além de outros, naturalmente produzidos por eqüinos e suínos – estimulam a ovulação em duas espécies de felinos brasileiros em extinção: a jaguatirica e o gato-do-mato-pequeno.
Ambos os animais são comuns em várias regiões do país, principalmente em florestas tropicais e equatoriais, como a Mata Atlântica e a Amazônia. No entanto, devido à devastação desses ecossistemas e à caça predatória voltada para a produção de peles, esses felinos estão em vias de desaparecer do meio ambiente nacional.
O estudo de Regina pretende justamente fornecer alternativas para o aumento da população de jaguatiricas e gatos-do-mato-pequenos, evitando assim a extinção dessas espécies. A pesquisadora injetou os hormônios FSH e LH (hormônio folículo estimulante e luteinizante, de suínos), ECG (gonadotrofina coriônica eqüina) e HCG (gonadotrofina coriônica humana) em cinco jaguatiricas e quatro gatos-do-mato-pequenos. “Percebemos que esses hormônios, apesar de produzidos por outros animais, tiveram sucesso em promover uma superovulação nos felinos”, explica.
Essa elevada produção de óvulos possibilitou a Regina recolher do organismo dos animais os ovócitos – óvulos em estágio inicial de desenvolvimento. Após um período de maturação, essas células reprodutivas estão prontas para serem fecundadas através de fertilização in vitro. Nesse processo, o pesquisador conjuga os óvulos a espermatozóides em laboratório, formando assim o embrião, que posteriormente é injetado no útero de uma “mãe de aluguel”.
Embriões
Atualmente existem 70 embriões de jaguatirica e 28 embriões de gatos-do-mato-pequenos oriundos de um trabalho conjunto entre USP, Associação Mata Ciliar e Zoológico de Cincinnati, nos Estados Unidos. Quinze destes embriões foram transferidos para cinco jaguatiricas, sendo que apenas uma desenvolveu gestação e parto normal. Porém, o filhote morreu algumas horas após o nascimento.
Antes de elaborar sua pesquisa com jaguatiricas e gatos-do-mato-pequenos, Regina participou de um estudo coordenado pelo professor Renato Campanarut Barnabe, em 2001, no qual Ronaldo Gonçalves Morato fecundou in vitro ovócitos de onça-pintada. Hoje existem oito embriões, que aguardam somente a transferência para uma gravidez de aluguel.
Pioneira no Brasil, a fertilização in vitro em felinos selvagens foi realizada pela primeira vez no Zoológico de Omaha, nos Estados Unidos, onde pesquisadores conseguiram produzir um filhote de tigre em 1991. No entanto, até agora não conseguiram repetir o processo.