O Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP inaugurou no dia 19 de setembro a sala de monitoramento do Centro de Sismologia, grupo formado por membros da instituição e também do Instituto de Energia e Ambiente (IEE). O espaço foi construído com patrocínio da Petrobras e servirá para acompanhar os dados que chegam das 47 estações sismológicas instaladas pelo Brasil.
A operação de toda a estrutura para a detecção de abalos sísmicos só foi viabilizada pela existência da Rede Brasis, formada pelo Centro de Sismologia da USP juntamente com a Universidade Estadual de Brasília (UnB), Unesp e Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Outras estações ainda serão instaladas, para que se possa fazer um monitoramento cada vez mais preciso das atividades sísmicas no solo brasileiro.
A importância de haver um monitoramento eficiente dos eventos sísmicos no Brasil é maior do que se imagina. Apesar de não ocorrerem grandes terremotos na área nacional, pequenos abalos acontecem com frequência e também causam danos. Desde 2011, 1.260 epicentros de abalos foram localizados. Além disso, não é só a atividade das placas tectônicas que gera esses tremores. Obras de grande impacto e transformação ambiental, como as hidrelétricas e seus reservatórios, também são responsáveis e precisam ser identificados e acompanhados de perto.
Um abalo sísmico não é um fato isolado. Uma única movimentação de terra é capaz de provocar tremores que serão replicados por muito tempo. Em agosto de 2006, ocorreu um abalo de magnitude 4 na escala Richter no município de João Câmara, no Rio Grande do Norte. As réplicas desse tremor perduraram durante meses, aterrorizando a população da cidade. Em novembro do mesmo ano, outro abalo forte voltou a ocorrer no mesmo local, dessa vez com magnitude 5,1. Por causa dos tremores, boa parte da população da cidade decidiu emigrar para a capital do Estado, Natal. Para se ter uma ideia da violência do abalo, o aumento de um grau na escala Richter significa que o segundo tremor foi 10 vezes maior do que aquele registrado em agosto.
Em Minas Gerais, um abalo de 4,7 graus em 2007 foi responsável pelo desabamento de uma residência e a morte de uma criança. O tremor mais forte já registrado no Brasil ocorreu em 1955, com uma magnitude de 6 graus na escala Richter. Um abalo como esse é esperado para ocorrer a cada 50 anos, ou seja, poderia voltar a acontecer a qualquer momento. Se atingir uma zona urbana, as consequências serão sérias. Caso algum tremor ocorra, a equipe do Centro de Sismologia pode se descolar até o local e ajudar as autoridades a lidar com o problema, esclarecendo a população e delimitando as áreas de risco.
Apesar de todo o desenvolvimento tecnológico, não é possível prever um tremor de terra. O que a sala de monitoramento e suas estações sismológicas poderão fazer é detectar o abalo e transmitir essa informação o mais rápido possível, para alertar uma possível população local ou apenas acompanhar a região de incidência do tremor, o que já tem o potencial de evitar tragédias maiores. A nova estrutura também será benéfica para o próprio IAG. A sala de monitoramento proporciona “uma melhoria na qualidade das pesquisas, com dados melhores e de maior qualidade”, afirma o professor do Instituto Marcelo de Souza Assumpção.