ISSN 2359-5191

20/09/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 67 - Meio Ambiente - Instituto de Biociências
Pesquisa inverte sexo de garoupas
Experimentos feitos no Centro de Biologia Marinha da USP tiveram 100% de êxito ao transformar garoupas fêmeas em machos
Garoupas usadas na pesquisa (Fonte: Divulgação)

Em tese de doutorado no Instituto de Biociências (IB) da USP, Carlos Eduardo de Oliveira Garcia teve 100% de êxito ao transformar garoupas fêmeas em machos. Os experimentos foram feitos no Centro de Biologia Marinha da USP (Cebimar).

As garoupas são peixes marinhos categorizados como hermafroditas protogínicos, ou seja, todos os indivíduos nascem fêmeas e alguns deles tornam-se machos, garantindo o equilíbrio natural das populações. Esta inversão sexual ocorre, na natureza, em razão de diversos fatores. Garcia explicita um deles: “Dentro da população de garoupas, os maiores indivíduos são machos”.

Por ser uma espécie bastante valorizada comercialmente, é muito pescada - com preferência aos maiores, que no caso são os machos, por terem maior aceitação no mercado. Com isto, percebe-se um desequilíbrio nas populações, o que compromete a reprodução e a consequente sobrevivência da espécie, que, atualmente, está na lista vermelha da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais).

No Brasil, pesquisas semelhantes já tinham sido feitas, mas, a mais próxima, utilizando apenas metiltestosterona, por via oral. Dessa maneira, só alcançou-se transformação desejada depois de seis meses. “O grande avanço da nossa pesquisa foi usarmos metiltestosterona e também uma outra substância chamada inibidor de aromatase, o que levou este tempo a cair para 60 dias.”

Na pesquisa de Garcia, o inibidor de aromatase foi injetado na cavidade intraperitoneal e não é um hormônio, mas sim uma substância que impede a ação de uma enzima. Esta, por sua vez, é a responsável por transformar testosterona em estradiol: “A inibição desse processo faz com que se acumule testosterona, ou outros hormônios masculinizantes, como o 11KT [11 ceto-testosterona]. Esses hormônios promovem a inversão”, explica o pesquisador.

Captação de espermatozóides (Fonte: Divulgação)

A pesquisa excluiu os fatores sociais que, naturalmente, são responsáveis pela inversão, ao realizar o experimento em cativeiro. Com relação às causas fisiológicas, concluiu-se que o melhor período para iniciar tal processo é o pré-reprodutivo, porque a gônada está em plena atividade de produção de hormônios. Portanto, há maior acúmulo tanto de testosterona como de 11 ceto-testosterona.

A pesquisa, além de dominar a técnica da inversão, compôs um banco de espermatozóides, que, testados em reprodução induzida, também foram viáveis em sua totalidade.“Nós demos outros passos também além da inversão, que foi a reprodução em cativeiro. Agora nós precisamos acabar de dominar a larvicultura e a engorda.” O pesquisador disse ainda, que pesquisas para estes fins já estão em andamento.

A pesquisa desenvolveu ferramentas que contribuem para a domesticação da espécie, pois o seu objetivo, segundo Garcia é desenvolver o cultivo em cativeiro na área da piscicultura marinha: “A única fonte de proteína que a gente não domina ainda totalmente é a advinda de pescados. No Brasil, temos uma produção muito intensa em água doce, mas na piscicultura marinha, ainda não.”

O cultivo de espécies em cativeiro está alinhado ao conceito de desenvolvimento sustentável. “Porque você vai deixar de pescar, deixar de ser coletor. E, então, entrar para uma linha de produção que, com certeza, manterá uma regularidade no abastecimento desse produto.”

Leia também...
Nesta Edição
Destaques

Educação básica é alvo de livros organizados por pesquisadores uspianos

Pesquisa testa software que melhora habilidades fundamentais para o bom desempenho escolar

Pesquisa avalia influência de supermercados na compra de alimentos ultraprocessados

Edições Anteriores
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br