O consumo e a reutilização da água em residências têm grandes relações com os aspectos sociais e econômicos de seus habitantes. É o que mostrou o professor Daniel Sant'Ana, da Universidade de Brasília (UnB). Em palestra ministrada na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, o pesquisador comentou sobre o aproveitamento da água da chuva e as correlações entre a conservação de água e as características de seus usuários.
Em sua tese de doutorado, Estudo sociotécnico do uso e conservação de água em edificações residenciais, Sant'Ana pesquisou o comportamento de utilização de água em diferentes áreas residenciais do Distrito Federal. Cada área possuía uma faixa de renda diferente: renda alta, média-alta, média-baixa e baixa. As análises concluíram que o uso de água é diretamente proporcional à renda. Ou seja, quanto maiores os ganhos dos habitantes, maior o consumo de água, e vice-versa. "A gente vê, pelos dados, banhos na alta renda que, às vezes chegavam a uma hora. Em contrapartida, nós tínhamos banhos, na população de baixa renda, de um minuto e meio. Eu verifiquei que, para a grande maioria dos moradores de baixa renda, a conta de água pesa", disse o professor.
Os estudos também mostraram que, embora as pessoas se mostrem preocupadas com a preservação dos recursos hídricos, há pouca disposição em se realizar obras de conservação de água. O motivo está no investimento inicial para se realizar a adaptação desses sistemas. Embora tragam retorno a longo prazo, os custos são inviáveis para alguns. Em entrevista para a Agência Universitária de Notícias, o professor afirmou que "a maioria dos entrevistados indicaram que estão dispostos a investir entre R$ 11 e R$ 50 durante um período de até 12 meses, ou seja, investimentos em soluções simples, como reparo de vazamentos, equipamentos economizadores de água, ou até mesmo em tonéis de 200 ou 300 litros, para separar águas pluviais."
A questão do custo afasta as pessoas de apostar em alternativas que, no futuro, trará benefícios tanto econômicos quanto ambientais. Para que esse cenário se transforme, Sant'Ana acredita ser necessária a adoção de políticas públicas, apoiadas em subsídios financeiros. "Como exemplo, políticas tarifárias que permitam reduzir o custo capital dos sistemas, taxas de juros reduzidas para famílias que desejam financiar a instalação em sua casa, ou até mesmo descontos especiais na conta de água e esgoto."