Pesquisa da Escola de Enfermagem (EE) da USP afirma que profissionais da saúde devem se aproximar da realidade do cuidador de paciente dependente para que haja uma melhora no desempenho do cuidado e na qualidade de vida do mesmo. Por terem a vida transformada devido à necessidade de se dedicar a um familiar, muitos cuidadores precisam de espaço para desabafar e são inseguros em relação a realização de procedimentos.
A pesquisa Avaliação da rede e do apoio social de cuidadores familiares de pacientes dependentes foi realizada por Cintia Hitomi Yamashita, em um Serviço de Assistência Domiciliária localizado na zona sul do município de São Paulo, onde são prestados serviços de caráter ambulatorial. Foram entrevistados 110 cuidadores familiares que realizavam a atividade há mais de três meses e que não recebiam remuneração pelo cuidado prestado. Eles eram majoritariamente do sexo feminino, com idade média de 55 anos e filhas dos pacientes.
Cintia aponta as diferenças entre os termos rede social e apoio social, avaliados nas entrevistas: o primeiro refere-se ao número de pessoas com quem o cuidador tem um vínculo. Já o segundo está relacionado ao grau de satisfação com essas relações, que pode ser dividido em cinco dimensões: afetiva (atrelada às demonstrações físicas de afeto), material (referente ao apoio financeiro), emocional (ligada à demonstração subjetiva do afeto), de informação (relacionada aos conselhos recebidos), e a interação positiva (que diz respeito à disponibilidade de lazer do cuidador).
De acordo com as entrevistas, a rede social dos cuidadores era formada em sua grande maioria por familiares. Para avaliar as dimensões do apoio social, Cíntia realizou duas associações: uma entre as dimensões e o perfil do cuidador e outra entre as dimensões e o perfil do paciente.
Em relação a primeira, os dados recolhidos mostraram que a maioria dos cuidadores tinha uma boa percepção de apoio social. Segundo a pesquisadora, os resultados expressam relevante relação entre a escolaridade do cuidador e às dimensões material, emocional, de informação e interação positiva. “Nota-se que os cuidadores com baixa escolaridade acreditam ter mais apoio social do que outros, pois percebem menos as limitações que ocorrem em seu cotidiano devido ao cuidado”, diz.
A pesquisa aponta que cuidadores que afirmaram ter um companheiro e não se sentirem sobrecarregados com o paciente tinham mais satisfação com a interação positiva. Outro dado demostra que cuidadores que apresentavam dores no corpo tinham maior percepção de apoio na parte afetiva, e os mais velhos afirmavam ter mais apoio financeiro.
As associações entre as dimensões do apoio social com o perfil do paciente demonstraram que os cuidadores que acompanhavam alguém incontinente ou dependente em higiene pessoal tinham maior percepção de apoio material. Já o cuidador de alguém que era independente para sair da cama apresentava maior percepção de interação social.
Após as entrevistas e análise de dados, Cintia percebeu insegurança em relação a realização de procedimentos e necessidade de desabafar. Segundo ela, a grande parte abria mão da própria vida para o cuidado do paciente. “Muitos cuidadores, por exemplo, mencionaram ter problemas de saúde, mas não realizavam tratamento, pos precisavam cuidar do familiar”, conta.
Com a atenção muitas vezes voltada apenas ao dependente, há a necessidade de um olhar direcionado ao cuidadores. A pesquisadora afirma que o estudo é importante para incentivar os profissionais da saúde a conhecerem de forma mais profunda os indivíduos que se dedicam ao cuidado de familiares e, assim, amenizar os impactos que o exercício dessa função causa. “O serviço de assistência domiciliária possibilita que o profissional de saúde entre na casa e veja o contexto em que o paciente vive. Então, ele deve não focar só na assistência ao dependente e lembrar que existe um cuidador e uma família por trás dele.”
Mais informações: cintiahitomi@gmail.com