Pesquisas realizadas no Centro de Química e Meio Ambiente do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares - Ipen, coordenadas por Ademar Benévolo Lugão, permitiram o desenvolvimento de uma família de curativos avançados. Trabalhos práticos têm comprovado as vantagens da utilização desses curativos avançados no tratamento de feridas crônicas. Desenvolvido, a princípio, para o tratamento de queimaduras, o curativo a base de hidrogel também apresenta resultados satisfatórios quando aplicado a úlceras e outras feridas
“A tecnologia básica do hidrogel é muito antiga” afirma Lugão. Este curativo consiste em uma placa gelatinosa composta 94% por água, a qual tem muitas vantagens sobre os métodos convencionais. O material não adere à ferida, se prende apenas a pele saudável e controla a dor, ao contrário da gase que, normalmente, se junta à ferida, causando dor e pequenos sangramentos ao ser retirada. O tecido hidrogel é macio e flexível, facilitando a colocação em áreas irregulares do corpo e sendo mais confortável para quem o usa. Ele forma uma barreira contra bactérias, evitando infecções externas, mas permite que a ferida respire tendo em vista a permeação do oxigênio pela água.
Lugão conta sobre a aplicação prática do curativo. Indicado para o tratamento de feridas como queimaduras e úlceras externas, o curativo também tem sido testado com muito sucesso em feridas decorrentes de doenças negligenciadas tais como a hanseníase e a leishmaniose. Ele pode ser usado como proteção contra o suco gástrico para procedimentos cirúrgicos. No entanto, o uso do hidrogel não tem efeito desejável se aplicado sobre feridas com secreção e suturas. Como ele mantém a região constantemente úmida, não absorve muito a secreção e devido à umidade os pontos tendem a se abrir.
“De fato, este curativo é quase perfeito” afirma o pesquisador. No entanto, para um curativo ser ideal ele deve lidar com a secreção e o hidrogel sozinho não absorve ou dá vazão a ela. Desta forma, dentro do curativo a base de água, a secreção se acumula no entorno da ferida. Uma possível solução, testada pelos enfermeiros Juliano Araújo, Albeliggia Vicentini e Talita R. Cardoso foi a abertura de um pequeno orifício na placa gelatinosa, para permitir a saída da secreção.
O hidrogel tem sido produzido com a adição de solução de nanopartículas de prata, elemento que ajuda a combater micróbios e inflamações e reduz também a produção de secreção e esta deixa de ser um impedimento para o uso do curativo. Lugão contou sobre o êxito do uso da prata nos pacientes. “Começamos a mandar o hidrogel para serem testados por Araújo, em Uberlândia, e pela Talita, em Tocantins. Uns enfermeiros gostaram mais, outros nem tanto. Quando mandamos com as nanopartículas de prata, eles não queriam mais saber de outro hidrogel, só com a prata.” A aplicação deste é mais rápida e simples que os curativos feitos atualmente - usando gases, pomadas, medicamentos tópicos, soro, esparadrapos etc. Além disso, o hidrogel exige que o curativo seja trocado menos vezes e a ferida é curada mais rapidamente.
Todos estes fatores fazem com que atendimento médico seja otimizado, permitindo que mais paciente sejam tratados e curados em um mesmo período de tempo. O custo final do hidrogel acaba sendo vantajoso, porque leva em conta a economia de medicamentos como pomadas e óleos, a menor frequência na troca do curativo, a rapidez e a eficiência. Sobre os custos previstos, Lugão disse que “ele pode ser muito barato, baratíssimo, mas tudo depende de quem o produzir”.
Outro curativo que foi testado com muito sucesso em pé de diabético foi o hidrogel com nanopartículas de papaína que permite um debridamento eficaz de regiões necrosadas. Lugão conta sobre as dificuldades de desenvolver o hidrogel com papaína: “foi um grande desafio, como colocar algo que não é resistente à água num curativo a base de água?”.
Ademar Lugão também coordena novas linhas de pesquisas que visam elaborar um curativo avançado, com a mesma base do hidrogel, que seja especialmente adaptável a superfícies irregulares e cavidades. O novo curativo viria em formato de bisnaga, como um gel líquido, porém com propriedades mecânicas especiais que fazem dele, resistente, aderente e adaptável. Essa produto será muito diferente de tudo que há no mercado tendo em vista a facilidade de retirar o gel após o período de uso adequado. Este produto deverá ser testado ainda em 2013 ou no máximo 2014.