Pesquisa realizada na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP indica que a intervenção aquática pode melhorar a qualidade de vida de pacientes com Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC).
A tese de doutorado intitulada Efeitos da intervenção aquática em crianças com características de transtorno do desenvolvimento da coordenação é do pesquisador Lúcio Fernandes Ferreira. O trabalho buscou identificar os efeitos de exercícios realizados no ambiente aquoso e as diferenças entre esse e o tratamento com exercícios terrestres.
Segundo o pesquisador, “o TDC se caracteriza por prejuízos no desenvolvimento da coordenação motora que afetam o desempenho da criança em habilidades motoras de uma forma geral, ou, de forma específica nas habilidades de locomoção, manipulação e ou de equilíbrio e pode causar impactos negativos à autoestima, ao autoconceito, à aceitação social, à percepção de competência motora, tornando a criança mais introspectiva, desmotivada, solitária e gradativamente mais sedentária”.
O TDC prejudica sensivelmente o dia a dia da criança. No ambiente doméstico, possui dificuldades de realizar a auto higiene (escovar dentes, tomar banho, entre outros procedimentos), colocar água em um copo, comida no prato, cortar alimentos, atravessar ruas e brincar em parquinhos em brinquedos estacionários e móveis. Na escola, pode apresentar dificuldades na escrita, lenta, ilegível, traços muito fortes, constantemente cai, esbarra nas carteiras, em pessoas, é desorganizada com seu materia. Aos poucos, começa a ser excluída das brincadeiras que envolvem corrida, bola, até que por si mesma deixa de brincar com os colegas, atividades que são imprescindíveis para seu bom desenvolvimento motor, cognitivo, social e afetivo. “É necessário que profissionais da saúde, tais como professores de Educação Física, terapeutas, fisioterapeutas, pediatras, neuropediatras, psicólogos, conheçam o TDC para que assim, auxiliem tanto as famílias quanto às crianças”, acrescentou Lucio Ferreira.
Desenvolvimento da Pesquisa
O estudo foi realizado com crianças da área urbana de Manaus na Universidade Milton Lins. Foram quatro meses com três encontros semanais de 60 minutos. As sessões eram compostas por exercícios de locomoção (nadar, correr, deslizar, saltitar, saltar obstáculos, em distância, de diversas alturas), equilíbrio (em duas pernas, em uma perna, em diversas superfícies) e manipulação de objetos (arremessar, receber, rebater, volear).
Para verificar a eficiência do tratamento, o pesquisador realizou uma bateria de testes motores chamados de MABC2 (Movement Assessment Battery for Children) e questionários com professores e pais que mostraram o perfil da criança em atividades da vida diária e da vida escolar. Luciano Ferreira afirmou que “os efeitos se mantiveram após o término das intervenções e isso é um resultado muito interessante, pois mostrou que quando a intervenção é adequada os efeitos advindos desta podem se manter ao longo do desenvolvimento.”
A intervenção aquática se mostrou efetiva, método que havia sido pouco estudado anteriormente devido à desvalorização do estudo do desenvolvimento motor e a dificuldade de envolvimento das populações na pesquisa. Entretanto, não houve diferenças expressivas em relação aos exercícios terrestres. Sabe-se agora que ambos tratamentos são funcionais. Porém o ambiente aquático pode se mostrar mais divertido e seguro. A aplicabilidade do método deve ser facilitada dependendo do contexto social e regional da criança. A água pode cumprir esse papel em regiões mais quentes, como Manaus, devido à temperatura, flutuabilidade, viscosidade e pressão hidrostática.