De acordo com pesquisa da Escola de Enfermagem (EE) da Universidade de São Paulo, a busca pela cirurgia bariátrica por mulheres obesas é tida como a última opção, após inúmeras tentativas frustradas de emagrecimento, e motivada por expectativas relacionadas principalmente ao âmbito social. Preconceitos sofridos devido ao corpo fora dos padrões estipulados e limitações físicas decorrentes da obesidade fazem com que a mulher se isole socialmente e há a esperança de que essa realidade seja revertida com a cirurgia, pela viabilização de um corpo magro.
Motivada pela falta de atendimento particularizado que considere a subjetividade do público obeso e pela experiência própria de ter passado pela cirurgia bariátrica, Deíse Moura de Oliveira realizou o estudo no Serviço de Controle da Hipertensão, Diabetes e Obesidade (SCHDO) de Juiz de Fora, Minas Gerais, onde foi voluntária e auxiliou grupos educativos voltados às pessoas que estavam no pré e no pós-operatório da cirurgia. Foram entrevistadas 12 mulheres que estavam aguardando a gastroplastia na fila de espera do SCHDO, as quais foram questionadas sobre os motivos que as fizeram decidir pela cirurgia bariátrica e sobre as expectativas para a vida após a mesma.
De acordo com a pesquisa, o processo de tomada de decisão pela cirurgia bariátrica por mulheres obesas ocorre como uma ação social em fluxo, ancorada na convivência com a doença e nos efeitos que essa convivência produz no universo subjetivo e intersubjetivo da mulher. Deíse afirma que duas dimensões, uma particular e outra ampla, atuam nessa decisão. A dimensão íntima, chamada de microestrutura social, é a família. Esta, de acordo com a pesquisadora, tem uma representação dúbia ao incentivar o emagrecimento da pessoa obesa e ao mesmo tempo sustentar a obesidade, por produzir os hábitos alimentares inadequados que culminam em um crescente aumento do peso.
Na dimensão maior, a macroestrutura social, o sofrimento se amplia, pois a aparência da mulher não condiz com o padrão de corpo da sociedade atual. Ela passa por preconceitos que inúmeras vezes ocasionam um processo de isolamento social. “Ao mesmo tempo em que a mulher se afasta da convivência em sociedade, ela busca ainda mais a comida para “amenizar” o sofrimento causado pelo preconceito”, diz Deíse.
A pesquisa aponta que no momento em que a mulher decide de fato pela cirurgia bariátrica, o modo como ela enxerga o procedimento cirúrgico se transforma. Obstáculos que antes a afastavam dessa opção, como os riscos, os medos e inseguranças geradas pela cirurgia, não dominam mais seus pensamentos.
Na concepção da pesquisadora, os resultados do estudo revelam aos profissionais de saúde a importância de analisar a obesidade, que é uma doença crônica não transmissível, para além do viés prescritivo e dos dados epidemiológicos. A subjetividade das mulheres precisa ser valorizada para que o resultado do tratamento cirúrgico seja proveitoso, e os profissionais de saúde necessitam olhar com mais atenção para os fatores gatilho para a obesidade, que são a raiz do problema. “Os profissionais que assistem esse público devem entender que antes de a obesidade existir há uma pessoa que porta a doença e que precisa ser olhada de forma atenta ao se decidir pelo tratamento cirúrgico.”
Deíse também chama atenção para o fato de que muitas vezes a cirurgia é vista como uma saída milagrosa, o que pode comprometer seus resultados. Segundo ela, a gastroplastia deve ser entendida como um tratamento iniciado no ato cirúrgico, o qual não se encerra no mesmo, e que exige corresponsabilização do sujeito operado por toda a vida para que sejam alcançados resultados positivos. Ao compreender os motivos que conduziram a mulher obesa ao procedimento, o profissional de saúde deve buscar meios que coloquem a paciente como a principal responsável pelo sucesso da gastroplastia.
Mais informações: deisemoura@usp.br