Os museus, muitas vezes encarados como espaços para a preservação da memória, “são fundamentalmente lugares de produção de conhecimento”, afirma Maria Margaret Lopes, pesquisadora convidada da Universidade de Évora, Portugal, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade de Brasília (UnB). “Não há como ignorar que os objetos, as coleções, foram a razão de ser de algumas áreas de conhecimento, que se estruturaram construindo determinados espaços”, disse a pesquisadora durante a conferência Museus e Pesquisa, que aconteceu no início de setembro.
A palestra encerrou o I Simpósio Internacional de Pesquisa em Museologia (I SInPeM), que teve como tema Pesquisa em Museologia: Abordagens Interdisciplinares. O evento foi organizado pelo Programa de Pós-Graduação Interunidades em Museologia da Universidade de São Paulo (PPGMus), que reúne professores dos Museus de Arqueologia e Etnologia, Arte Contemporânea, Paulista e de Zoologia, todos da USP. O I SInPeM, que aconteceu na Pinacoteca do Estado de São Paulo, contou com a apresentação de trabalhos acadêmicos e cursos de extensão universitária.
Margaret destacou a relação entre os museus e a história das ciências no Brasil e na América Latina, por meio de uma análise das intersecções entre ciências, história e os espaços museológicos. A pesquisadora também frisou o fato de que muitos temas recorrentes na historiografia das ciências ainda não foram analisados sob um ponto de vista museológico.
Desde os primeiros anos da década de 80, os museus despertam a curiosidade enquanto ferramentas de análise. Um reflexo desse interesse é a publicação Journal of the History of Collections (Jornal da História das Coleções), criada após um simpósio na área de museologia em 1983. O periódico é um marco no processo de reconhecimento dos estudos realizados com base nas coleções.
No Brasil, o panorama de estudos de museus e a museologia se transformaram radicalmente nas últimas décadas. Por aqui há novas e diferentes publicações na área, inclusive algumas disponíveis na internet, e os cursos de graduação e pós-graduação apresentam propostas curriculares diversificadas. Segundo Margaret, o país vive um processo de consolidação da museologia.
Há um interesse cada vez maior nos museus como objeto de análise e os estudos sobre suas histórias, bem como sobre a história das coleções, vêm se desenvolvendo sob diferentes pontos de vista teóricos e metodológicos. Um exemplo da importância das pesquisas sobre a história dos espaços museológicos é a relação entre estes e o tempo histórico. “Diversas perspectivas dos países europeus centradas nos impérios têm mostrado como essas instituições [os museus] combinaram, no final do século 19, os seus interesses em disputas locais com as visões cosmopolitas e imperialistas”, explica a pesquisadora.
Ao final de sua exposição, Margaret apontou o Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast), no Rio de Janeiro, como uma proposta inovadora. Originado da intenção de estudar a história da ciência e da tecnologia no Brasil a partir de um espaço museológico, o Mast afirma o museu como local gerador de conhecimento.