ISSN 2359-5191

14/12/2004 - Ano: 37 - Edição Nº: 23 - Meio Ambiente - Instituto de Biociências
Ilhas de Mata Atlântica não servem como refúgio para aves em extinção
Mesmo em áreas onde os fragmentos de mata são grandes e conectados à faixa contínua de vegetação, a variedade e a quantidade de espécies de aves sofre severa redução

São Paulo (AUN - USP) - As poucas ilhas de vegetação que restam da Mata Atlântica podem não ser o refúgio ideal para muitas espécies de aves ameaçadas de extinção. Ao contrário do que pensavam muitos pesquisadores, os fragmentos de mata que ainda restam – mesmo aqueles que em alguns pontos são grandes e conectados à faixa contínua de vegetação – não garantem a manutenção da abundância e riqueza da avifauna. Nesses lugares, o número de espécies é seriamente reduzido. A conclusão faz parte da pesquisa realizada por Pedro Ferreira Develey pelo Instituto de Biociências (IB-USP), que observou durante quatro anos a presença de aves em fragmentos de Mata Atlântica conectados ao Parque Estadual de Jurupará (Ibiúna-SP) e à Reserva do Morro Grande (Cotia–SP).

Em sua pesquisa, orientada por José Carlos Motta Junior, Develey considerou importante analisar não só os fragmentos de mata, mas também a área na qual a vegetação natural ainda resiste, a chamada “mata contínua”. Como critério, foram observados aspectos além dos usuais, como o tamanho da mata fragmentada e sua distância da faixa contínua. “Também é importante analisar os fragmentos como parte de uma matriz e levantar elementos da estrutura da paisagem, como o grau de conectividade, tipo de matriz, histórico de perturbação e grau de preservação da vegetação”, explica o pesquisador.

Develey considerou como área de mata contínua o Parque Estadual de Jurupará (Ibiúna-SP) e a Reserva do Morro Grande (Cotia–SP). A partir daí, três paisagens fragmentadas em diferentes graus foram escolhidas: Tapiraí, com 53% de mata nativa, Caucaia com 31% e Ibiúna, a mais afetada, com apenas 26%. É possível estimar esses dados através da interpretação de fotos áreas das paisagens e, com os locais de observação selecionados, o pesquisador partiu para a contagem das aves.

Foram registradas, no total das paisagens, 156 espécies de aves. Nas áreas de mata contínua, foram contabilizadas 133 espécies. Já nos fragmentos de mata, o número decresce conforme aumenta a devastação da paisagem natural. Em Tapiraí, a menos alterada, foram observadas 110 espécies de aves, em Caucaia o número caiu para 81 e em Ibiúna apenas 70 delas foram encontradas. Quanto às espécies ameaçadas de extinção, cujo número já é reduzido, os dados são ainda menores: foram registradas 16 delas nas áreas contínuas, nove em Tapiraí, duas em Caucaia e nenhuma em Ibiúna.

“Em Tapiraí, por exemplo, o fragmento de vegetação está muito próximo da mata contínua e pode ser considerado de ‘boa qualidade’ para o hábitat para as aves. Mas, pela nossa observação, isso não garantiu a conservação da variedade e quantidade de espécies. Muitas aves estão desaparecendo, já com a mínima alteração feita na vegetação”, afirma Develey.

Espécies ameaçadas

Os grupos mais prejudicados pela fragmentação, tanto em abundância quanto em número, foram as espécies que dependem de um equilíbrio tênue para conseguirem alimentos. Aves que ficam na copa das árvores e se alimentam de frutas, como os tucanos, arapongas e pequenos papagaios, por exemplo, estão no rol das que estão desaparecendo. “No inverno, esse tipo de ave precisa deslocar-se cada vez mais longe para encontrar alimentos, o que se torna difícil se o fragmento de mata é pouco extenso”, explica Develey. Outros grupos que também são mais ameaçados com a devastação da mata são os das aves que se alimentam de insetos junto ao solo e onívoros que habitam o estrato médio de vegetação.

Segundo o pesquisador, os resultados do estudo servirão para direcionar o gerenciamento de ações para a conservação dessas áreas e também para orientar futuras pesquisas sobre os efeitos das alterações na Mata Atlântica. “O que fica claro é a importância da manutenção de áreas de matas contínuas para a conservação da avifauna da Mata Atlântica”, conclui Develey.

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