São Paulo (AUN - USP) - A palmeira imperial australiana (Archontophoenix cunninghamiana) é uma árvore diferente das outras em seu redor. Seus pequenos frutos vermelhos não encontram paralelo nas árvores nativas com que ela divide os bosques da USP e arredores. Trazida da Austrália para ornamentação da Cidade Universitária, a palmeira se adaptou bem ao seu novo ambiente. Bem até demais.
Inicialmente plantado em pontos específicos do Campus, o vegetal se reproduziu de forma alarmante e hoje pode ser encontrada em praticamente todas as áreas verdes do local. A professora Vânia Regina Pivello do LEPaC (Laboratório de Ecologia de Paisagens e Conservação) do IB (Instituto de Biociências da USP) estudou a disseminação dessa árvore na Reserva Florestal da Cidade Universitária, uma área verde com vegetação nativa preservada sob os cuidados do IB.
O resultado da pesquisa é alarmante. Num ambiente em equilíbrio não deve ocorrer mudança significativa na proporção de vegetais de cada espécie, porém o número de palmeiras imperiais adultas pulou de 154 em 1997 para 263 em 2002. “A invasão é ainda mais alarmante ao se considerar apenas os indivíduos jovens. No espaço ao redor de cada adulto reprodutivo dessa palmeira, não aparece nenhum indivíduo de outra espécie”, alerta a professora.
Ecossistemas são extremamente complexos e frágeis, seus ciclos foram estabelecidos lentamente ao longo de milhões de anos de evolução. Toda espécie vegetal e animal possui um papel muito especifico no conjunto e o homem pode interferir de formas imprevisíveis ao introduzir um indivíduo de uma espécie nova, que pode se alastrar e dominar a comunidade, alterando muitos desses ciclos e processos ecológicos. Esse fenômeno é chamado de invasão biológica.
Extremamente perigosas, as invasões biológicas desequilibram ecossistemas inteiros. Atuando direta e indiretamente, a espécie invasora pode extinguir muitas outras espécies ao seu redor. Ao prejudicar diretamente as espécies com as quais compete, ela prejudicará indiretamente as outras espécies que dependem da primeira, tanto vegetais quanto animais. Dessa forma, cria-se um ciclo vicioso que acabará por reduzir drasticamente a biodiversidade do ecossistema original.
Embora a perspectiva seja que o ambiente eventualmente encontre um novo equilíbrio entre suas espécies, ele será muito empobrecido em relação ao primeiro.
Os pássaros e as frutas vermelhas
Nem toda espécie introduzida num ambiente novo torna-se uma invasora, apenas algumas. Tais indivíduos possuem algum tipo de vantagem evolutiva que os torna altamente bem sucedidos no novo ambiente, justamente por aí não encontrarem predadores ou competidores que com eles tenham co-evoluído. Dessa forma, as espécies nativas acabam “perdendo a competição” com a invasora.
Um dos diferenciais da palmeira imperial australiana é seu fruto vermelho-vivo, extremamente atraente aos pássaros. Apesar de sua aparência chamativa, esse fruto é pobre do ponto de vista nutricional e a semente não é digerida, sendo expelida inteira, junto com um pouco de “adubo”. Aliada a essa enorme capacidade de dispersão, a planta ainda possui pouca exigência em relação à quantidade de luz que recebe e também tem mecanismos eficientes de transporte de água, o que a torna apta a diversos ambientes.
Manejo
Embora muito complicado de se realizar, algumas medidas de contenção são possíveis. A principal preocupação dos responsáveis deve ser descobrir métodos de atacar as espécies invasoras sem prejudicar as nativas. Quando ocorrem em áreas de reservas biológicas, o manejo das invasoras deve necessariamente seguir métodos não-agressivos.
No caso das palmeiras imperiais australianas presentes na Cidade Universitária e arredores, a solução proposta pela professora é uma extração regular dos cachos de flores das árvores, que virão a tornar-se frutos. Isso, aliado a “uma substituição gradual da palmeira por espécies nativas, é um trabalho lento, que levaria anos para ser realizado. Mas é o único jeito”, conclui a professora.