ISSN 2359-5191

14/12/2004 - Ano: 37 - Edição Nº: 23 - Educação - Instituto de Psicologia
Jovens supervalorizam a beleza
Pesquisa revela que estudantes do nível superior atribuem valor exagerado à aparência e ao físico, evidenciando padrões de estética e consumo

São Paulo (AUN - USP) - Os jovens universitários vêem a beleza como algo de extrema importância, afirma tese defendida no Instituto de Psicologia (IP) da USP pela psicóloga Flávia Maria Campos. Segundo suas pesquisas, o valor da beleza é ainda mais forte nas classes sociais abastadas, onde a preocupação dos estudantes com a aparência torna-se viável, devido à íntima relação com o consumo e com os valores propagados pela mídia e pela própria classe “A”.

Para investigar os graus de preocupação com imagem e aparência, a pesquisadora entrevistou 38 estudantes de uma universidade privada de Ribeirão Preto, no interior do São Paulo. Escolhidos aleatoriamente, os jovens – 19 homens e 19 mulheres, com idades entre 18 e 23 anos – responderam a questionários sobre seus hábitos, ambições e crenças relativos à beleza e cuidados com o corpo. “A beleza é altamente valorizada entre os jovens. A tendência em cultuar o corpo é vista como uma forma de estar na moda, dá status social, e assim, todos ficam tentando se encaixar num modelo de beleza estabelecido, sem aceitar diferenças”, conta Flávia.

Gordo ou magro?

Parte da pesquisa consiste em usar uma “escala de silhuetas”, com os seguintes tipos físicos: corpo magro, médio, musculoso e com sobrepeso. A partir desta escala, os universitários deviam apontar com quais corpos se identificavam, e qual deles desejariam possuir. De todos os entrevistados, 53% disseram ter a silhueta média – que também foi a mais cobiçada: 47% gostariam de possuí-la (especialmente as mulheres). A segunda mais desejada foi a musculosa (39%, e preferida pelos homens), seguida pela magra (13%). “Ninguém manifestou desejo pela silhueta com sobrepeso”, revela a pesquisadora.

Isso pode parecer óbvio, já que ser obeso envolve também aspectos relativos à saúde. Mas, do ponto de vista psicológico e sociológico, o fato de ninguém se identificar com um corpo gordo – ou não se aceitar como tal – revela a existência de uma “ditadura da beleza”, em que valores estéticos são encarados como dogmas para alcançar o sucesso e boas relações sociais. “Existe uma insatisfação com o corpo. É cobrada dos indivíduos a tríade beleza-saúde-juventude, enquanto obesidade, feiúra e velhice são totalmente desqualificadas. Então, em nome da necessidade de aceitação e reconhecimento, o sujeito tenta adequar-se aos padrões considerados ideais pela mídia e sociedade”.

Outros dados da pesquisa revelam que a maioria dos estudantes entrevistados pratica atividades físicas (82%), sendo 55% freqüentadores assíduos de academias. Do total, 84% admitem fazer constantemente dietas alimentares de emagrecimento. “O enquadramento nos padrões de beleza traduz uma busca sofrida pelo corpo ideal. Apesar de a maioria dos entrevistados se identificar com a silhueta média, quase todos fazem dieta, ou seja, passam fome para emagrecer mais”, diz.

Cultura do Narcisismo

Os estudos também estabelecem “níveis de narcisismo”, que indicam o grau de vaidade que o indivíduo possui. A maioria (90%) considera importante andar bem vestido e escolhe a dedo o que vai vestir, pensando em favorecer suas características físicas. Quando estão satisfeitos com sua aparência, 74% notam diferenças no seu relacionamento social, e 68%, no relacionamento amoroso. E ainda, 63% dos estudantes analisados afirmam que praticam exercícios e freqüentam academias por motivos estéticos. “Os jovens crêem que pessoas bonitas têm vantagens sobre as outras, e que a aparência influi no que os outros irão pensar a seu respeito. Relacionam beleza com inteligência, sucesso e bem-estar”.

Os maiores níveis de narcisismo foram encontrados na classe “A”. Indivíduos desta classe social têm maior tendência a praticar exercícios por motivos estéticos e a achar que a aparência influi nas relações com os outros. Eles também passam mais tempo na academia, e consomem mais produtos de beleza. “Os jovens mais ricos se preocupam mais com a auto-imagem, e se sentem livres quando podem gastar dinheiro em coisas que desejam. Para eles, beleza é, de fato, fundamental”, diz Flávia.

Segundo a psicóloga, é preciso mudar valores cristalizados na sociedade, nos quais se dá maior importância à beleza que ao próprio ser humano: vive-se num mundo onde predomina o individualismo, o fascínio pela celebridade, o culto do consumo como caminho para a felicidade, o medo do envelhecimento, o fetiche pela plástica. “A mídia contribui para a insatisfação com o corpo real, pregando modelos tirânicos de beleza. Os traços individuais são negados e vende-se a idéia de que o corpo é infinitamente maleável, que pode ser comprado. Torna-se necessário combater a homogeneização das aparências, hoje aceita e legitimada por nossa sociedade”.

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