São Paulo (AUN - USP) - Em muitas universidades, uma pesquisa que somente se preocupasse em recolher dados, sem pensá-los posteriormente, certamente seria criticada. Foi exatamente essa a crítica inicial que o Projeto Quadro do Paisagismo no Brasil (Quapa) algumas vezes encontrou em seus primeiros anos de existência: captar informações e não trabalhar em cima delas. Após dez anos de seu início, hoje o projeto, idealizado e liderado pelo professor Sílvio Soares Macedo, já produz frutos próprios.

A idéia da pesquisa surgiu a partir da constatação de que não existia qualquer estudo aprofundado sobre o paisagismo brasileiro, salvo raras exceções, como obras específicas sobre o paisagismo produzido por Roberto Burle Marx. “Havia estudos que somente exploravam o trabalho do Burle Marx, mas não cuidavam do paisagismo em geral. Então, nos propusemos a esse desafio: estudar as principais cidades do Brasil e traçar a história do paisagismo urbano” afirma Soares Macedo, que fundou o núcleo na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP).

“Hoje em dia o que temos é o maior banco de dados sobre o tema no Brasil” complementa o professor e salienta que o centro de informações formado está disponível a todos os pesquisadores interessados, seja via internet, seja via publicações.

Outro destaque foi o método utilizado no estudo. Segundo o professor, os bolsistas do núcleo iam até as cidades em questão e conferiam as diferenças entre o projeto inicial da obra e o que estava construído de fato.“Isso foi fundamental para que não caíssemos em uma imprecisão na nossa pesquisa, já que muitas vezes a projeção inicial, que os órgãos oficiais do município apresentavam, estava muito diferente mesmo do que se tinha na prática” completa Soares Macedo. Ademais, a autorias das fotos, posteriormente usadas nos estudos e em publicações, é somente de pessoas vinculadas ao Quadro do Paisagismo no Brasil, fato que, segundo o professor, só faz acentuar a peculiaridade do trabalho.

A pesquisa, até agora, foi dividida em três etapas, sendo que na primeira o objetivo foi de coletar-se informações de 17 cidades grandes e depois padronizar os materiais. A segunda etapa cuidou de mais 19 cidades e seguiu-se à padronização dos dados levantados, a construção do banco de dados, dois anos atrás. Em 2002, a terceira fase do projeto começou (tem previsão de término em 2006) e trouxe resultados mais práticos.

O primeiro doutorado feito com um bolsista inteiramente ligado ao Quapa saiu nesse ano, com o estudo das praças nas cidades grandes brasileiras ( http://www.lsi.usp.br/~aun/_reeng/materia.php3?cod_materia=0306496), tal qual um mestrado nas mesmas condições, também aprovado. A principal diferença desta fase e das outras é que agora os dados primários estão sendo explorados e que de fato “está construindo-se uma visão do que aconteceu tanto da parte teórica, como da formal” afirma Soares Macedo.

Publicações

Foram diversas as publicações feitas com pessoas ligadas ao Quapa, sendo que não somente livros e revistas foram o meio utilizado. CD-ROMs já estão prontos e disponibilizados aos interessados e inclusive um DVD está em produção. “A idéia é terminarmos de gravar um ciclo de depoimentos com os 27 principais paisagistas brasileiros e editarmos um DVD, para que a referência bibliográfica, que estamos construindo, fique mais rica” conta o professor. Além de uma exposição itinerante constituída com o material do projeto, em alguns paises já se publicou textos ligados ao Quapa, sendo a Alemanha e o Estados Unidos os que mais marcaram o professor: “foi muito bom ver um material nosso em Harvard”.

Entre as idéias para o futuro, a entrada de mais algum docente para ajudar na organização do estudo é algo bem cogitado. Também, segundo o professor, a tendência é de se ter cada vez mais projetos temáticos. “Os dados primários estão aí, agora a gente tem que refletir sobre eles”.

Mais informações: http://www.usp.br/fau/quapa ou em lapquapa@usp.br.