Dados divulgados pela ONU na última segunda-feira (23) apontam que o número de novas infecções pelo vírus da aids tem diminuído. No mundo todo, as infecções caíram 33% no período de 2001 a 2012, incluindo crianças e adultos. As principais regiões que apontaram queda foram a África subsaariana (34%) e Caribe (49%). O percentual tem crescido no Oriente Médio e no Norte da África e tem se mantido estável na América Latina. O relatório da Unaids, orgão da ONU que cuida do combate à aids, destaca a queda de 52% na quantidade de crianças contaminadas pelo vírus em 2012, em relação ao ano de 2001. Dados do Ministério da Saúde de 2012 registraram mais de 790 casos da doença em crianças, sendo que 328 deles ocorreram em menores de 5 anos; 57 casos na faixa etária de 5 a 9 anos; 69 casos em adolescentes de 10 a 14 anos e 344 casos na faixa etária de 15 a 19 anos. A enfermeira Sofia de Fátima da Silva Barbosa de Oliveira estudou, em seu mestrado defendido esse ano na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, a qualidade de vida dos adolescentes que vivem com a doença e fazem acompanhamento no Instituto da Criança (ICr) do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade.
Sofia entrou em contato com o tema quando outros assuntos relacionados à qualidade de vida dos pacientes, como nutrição, doenças recorrentes e problemas de audição ligados ao uso do antiviral, eram estudados por outros pesquisadores. Ela fazia a coleta de dados dessas pesquisas e percebeu que poderia trabalhar com o assunto, uma vez que já tinha trabalhado com o tema HIV/aids ainda na graduação, só que com adultos. “Em meados de 2010 fizemos o levantamento dos prontuários e coleta de informações clínicas de pacientes com HIV/Aids que estavam em acompanhamento no HC e optamos por aplicar os questionários apenas nos adolescentes, porque o número de crianças era muito pequeno", diz Sofia. "Ficamos com 61 pacientes no total, entre 12 e 18 anos."
A avaliação da qualidade de vida desses pacientes era feita por meio de questionários que os próprios pacientes preenchiam, no mesmo dia da consulta no HC. O médico apresentava a pesquisa e encaminhava os adolescentes e seu responsável para as entrevistadoras. Se eles concordassem em participar da pesquisa, respondiam aos questionários. O questionário continha cinco domínios: físico, social, emocional, clínico e geral. “Ele foi validado e traduzido dos Estados Unidos aqui no Brasil em um estudo de doutorado da Luciana Souza”, explica Sofia. Cada domínio era composto por questões em que o adolescente deveria informar desde o número de internações nos últimos três meses até sobre relacionamento com pais e professores. Cada resposta era dada em uma escala de 1 a 10.
As respostas obtidas foram transformadas para uma escala de 0 a 100, em que o 0 indicava uma pior qualidade de vida e 100 uma melhor. Os adolescentes da pesquisa tiveram pontuações que variaram de 70 a 98 “Tivemos escores muito altos e, de certa forma podemos dizer que os adolescentes avaliaram bem a qualidade de vida deles”, diz Sofia.
Segundo a pesquisadora esses resultados positivos podem estar relacionados ao fato de que o tratamento desses pacientes estava sendo feito em um centro de referência — o HC — o que facilita o controle da doença. A adolescência é uma fase complicada, com questões relacionadas a puberdade e conviver com uma doença crônica, como a Aids, que carrega grande estigma social, pode trazer muito estresse. É positivo saber que esses adolescentes estão crescendo bem.