O Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP recebeu doação de coleção do jornalista Luiz Ernesto Kawal. As gravações de vozes e sons coletadas pelo intelectual durante sua carreira farão parte da Vozoteca LEK, batizada a partir das iniciais do doador. O arquivo do Instituto promete catalogar e disponibilizar todo o acervo para o público em até dois anos.
Jornalista, Kawall trabalhou na Tribuna da Imprensa com o também jornalista e ex-governador do estado da Guanabara – onde fica atualmente a cidade do Rio de Janeiro – Carlos Lacerda. O político e amigo foi um grande incentivador da coleção de Kawall. “O primeiro disco da coleção dele é o do discurso do Carlos Lacerda para o governo da Guanabara”, comenta Paulo José, técnico do serviço de arquivo do IEB e membro do grupo responsável pela catalogação da Vozoteca.
A unidade realiza, por enquanto, um processo de mapeamento do acervo – que consiste em contabilizar tudo o que ainda está localizado em caixas. São exemplares de fitas cassete, fita-rolo e VHS, além de discos antigos de goma-laca – discos magnéticos de 78 rotações – e vinil. O acervo se destaca não somente pela coleção de faixas de músicas e cantores famosos, mas sim de sua coleção única de discursos políticos em que as vozes de Fidel Castro e Salvador Allende figuram entre os destaques.
A doação de Luiz Ernesto é recente. O processo se iniciou em abril deste ano e a equipe de trabalho ainda se estrutura. Um pouco atrasado pela mudança que envolve o Instituto, o acervo se organiza duas vezes por semana para manusear este material. “A gente fez um bom mapeamento do que a Vozoteca tem de discos. Essa ideia de suporte de material a gente já tem”, completa Paulo.
Entre os exemplares, se destacam as gravações de discursos de personalidades,
como Fidel Castro e Salvador Allende. Foto: Difusão IEB
Apesar de não ser a primeira coleção de sons do Instituto – a coleção de discos do escritor Mário de Andrade, por exemplo, faz parte do acervo – a LEK se destaca, pois está inserida em um contexto diferenciado de sons e vozes como um registro. "A coleção do Mário tem uma enorme importância, mas ela divide as atenções e faz ligação com o que o Mário produziu e criticou", explica o técnico. “Já a Vozoteca é mais precisa, ela foi idealizada como um discurso mesmo”.
O acervo online
Após o mapeamento, higienização e restauro, é projeto do arquivo a gravação de todos os documentos, pois a disponibilização do acervo em MP3 contribui e facilita busca do pesquisador. “O ideal é que isso se torne parte do projeto. Para mandar os discos ou as fitas magnéticas da Rádio Cultura, por exemplo, tem que ter um aparelho especial”, pondera Paulo sobre parte do acervo.
Para organização da Vozoteca, o processo digital do IEB é completo. O sistema do instituto, produzido a partir das demandas dos arquivistas, traz informações específicas para a descrição do material. “São várias opções para colocar o máximo de informação possível”, conta o técnico. Isso tudo é feito para que as informações documentais não se percam pelos anos. São seleções de referências que vão desde os nomes dos que foram gravados e a sinopse do contexto do disco, além das faixas. “Se a gente puder fazer um link já com essas faixas vai ser ótimo”, diz Paulo. “Nesse sentido, em dois anos, mesmo sendo trabalhoso catalogar cada material, vai ser possível disponibilizar o material”.