O Paquistão sofreu na semana passada com dois abalos sísmicos fortes em seu território. No dia 24 de setembro, um tremor de magnitude 7,7 atingiu a região do distrito de Awaran, no sudoeste do país. Quatro dias depois, outro terremoto, agora com 6,8 graus de magnitude, voltou a colocar as autoridades e a população local em alerta. O primeiro abalo já havia deixado mais 300 mortos e 100 mil desabrigados. O segundo tremor provocou pânico nas pessoas que sobreviveram ao terremoto do dia 24, inclusive com registro de feridos que fugiram de hospitais por medo de novos desabamentos.
Um fato que chamou a atenção neste desastre foi o surgimento de uma ilha no Mar da Arábia, próximo à costa paquistanesa. A ilha, que possui 100 metros de comprimento e nove de altura em relação ao oceano, não se encontrava naquele local antes do primeiro terremoto. Formações geográficas como esta, decorrentes de fortes abalos sísmicos, não são comuns. Como explica o pesquisador do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, Marcelo Bianchi, “normalmente tais eventos são na verdade secundários, não diretamente ligados a ruptura do terremoto em si.”
A ilha provavelmente é composta por lama, que foi expulsa do solo do local durante o abalo. “Existe uma grande probabilidade de que o fenômeno tenha sido decorrente da vibração do solo com a passagem das ondas sísmicas que acabaram por aumentar a pressão dentro das camadas sedimentares na região, causando a expulsão do material”, conta Bianchi. O pesquisador ainda enfatiza que essa situação ocorreu devido à características específicas do local do tremor. Não é sempre que ilhas de lama se formam após terremotos.
Devido à sua composição, a mais nova ilha do Mar da Arábia poderá ter uma vida curta. “Com o tempo ela tende a desaparecer por causa do movimento das ondas e das marés, que vão lavando o material que foi expulso pela pressão durante a passagem das ondas sísmicas”, afirma Bianchi. Moradores da região do terremoto afirmam que 60 anos atrás outro fenômeno similar teria ocorrido, mas a ilha desapareceu tempos depois.
Os tremores que aconteceram no Paquistão também foram detectados pelo Centro de Sismologia mantido pelo IAG em parceria com o Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP. “As estações operadas pelo Centro de Sismologia, principalmente no território brasileiro, registram qualquer evento com magnitude maior ou igual a 5.5 graus na Escala Richter, independentemente de onde eles ocorram no planeta”, conta o pesquisador. Para reforçar ainda mais o alcance das detecções, o Centro de Sismologia utiliza estações sismográficas de outros centros espalhados pelo mundo. Os dados produzidos aqui também são exportados para centro da Europa e dos Estados Unidos, para ajudá-los a localizar eventos ao redor do globo.
Além de trazer o conhecimento de novos abalos sísmicos e sua localização, os dados obtidos pelo Centro de Sismologia ainda registram as características dos terrenos atravessados pelas ondas emitidas pelos abalos. Essas ondas carregam informações valiosas sobre os locais pelos quais passaram e que, ao serem detectadas pelo Centro, podem ser utilizadas para fins científicos e acadêmicos, não só no IAG. “Os dados são guardados para estudos futuros nossos e de outros pesquisadores ao redor do mundo”, conta Bianchi. Por meio desses dados, é possível estudar e compreender melhor a complexa estrutura do nosso planeta.