ISSN 2359-5191

04/10/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 76 - Saúde - Faculdade de Odontologia
Anticoncepcionais interferem na distinção de cor entre homens e mulheres
Imagens do Teste de Ishihara, que podem atestar problemas na distinção de cores / Fonte: Hospital CEMA

Mulheres adeptas de anticoncepcionais mostram mais dificuldade na percepção de cores da escala de cinza. Foi essa a conclusão do trabalho realizado por pesquisadores da Faculdade de Odontologia (FO), que tiveram como objetivo analisar como e se aspectos hormonais, emocionais e de qualidade de vida poderiam intervir no modo como os estudantes do sexo masculino e feminino da unidade enxergam cores.

Maria Aparecida, psiquiatra e autora da pesquisa, explica que a subjetividade de poder haver outros fatores influentes na distinção de cor é a grande questão. “A cor é um fenômeno psicofísico, mas os estudos já existentes falam mais da parte física da cor, não da parte psicológica. Nossa dúvida era: será que fatores como ansiedade e depressão não poderiam interferir nesses dados?” Como comprovado posteriormente, o estado emocional e a qualidade de vida dos participantes não influíram nos resultados de percepção de cor nem em representantes do sexo feminino, nem do masculino. O que provocou, sim, mudanças foi a utilização hormonal, representada pela ingestão de anticoncepcionais. De acordo com a pesquisadora, “concluiu-se que as mulheres que usam contraceptivos orais percebem menos cor – principalmente do espectro vermelho e cinza – em relação aos homens e às mulheres que não o usam.” Ademais disso, não foi verificada diferença na percepção de cor entre os gêneros.

Como explica o professor Glauco Fioranelli Vieira, um dos orientadores do trabalho, uma informação crucial vem sendo ignorada por aqueles que proferem o fato de que homens discriminam menos cores do que mulheres: a de que o que realmente existe em maior porcentagem entre os homens é indivíduos com cor deficiência, que é a incapacidade de se verem algumas cores, cujo exemplo mais conhecido são os daltônicos. De acordo com pesquisas, pode-se considerar que 6% dos homens são cor deficientes, enquanto nas mulheres este número fica em torno de 2%. Assim, os dados desta característica relativos aos homens, por serem percentualmente mais elevados, acabam sendo equivocadamente levados à generalização, fazendo com que se diga que a população masculina como um todo distingue menos cores.

Foi justamente o equívoco disseminado pelo senso comum e a curiosidade em desvendar essa crença popular que motivaram o grupo, composto por Maria Aparecida, os professores Glauco Vieira e Adriana Matos, e Taciana Anfe a pesquisar sobre o tema “Influências de aspectos emocionais, hormonais e qualidade de vida na discriminação de cor”, com estudos realizados entre os alunos da FO. Assim, é importante ressaltar que a pesquisa trabalha com aqueles que diferenciam cores, e com não aqueles que as enxergam ou não. Os cor deficientes foram eliminados por meio de questionário e, depois, por meio do teste de Ishihara, um exame para detecção de deficiências na percepção de cores que não relata onde está o problema, somente se ele existe. Partiu-se, então, do princípio de que homens e mulheres sem problemas de enxergar cores estão nivelados no que se refere à percepção de suas variedades.

Para a pesquisa, foram selecionados 44 alunos do terceiro ano do curso de odontologia. Para a obtenção dos dados, foram utilizadas com os candidatos 56 etiquetas coloridas com diferenças de cores conhecidas, que haviam sido medidas em um aparelho denominado espectrofotômetro. Enquanto estavam sob condições uniformes de luminosidade, os alunos tiveram de distinguir as etiquetas, que variavam entre as cores vermelha, azul, verde, bege e cinza, em seguida separando em grupos as que eram exatamente iguais.

A distinção de cor, na opinião dos pesquisadores, é fundamental para o trabalho odontológico. Um exemplo prático é em caso de haver uma restauração de dente: “será que o profissional consegue perceber a diferença de cor para fazer a reconstrução?”, questiona Vieira. “Se o paciente tem uma percepção melhor do que a do dentista, nunca estará satisfeito com o trabalho. Essa é que é a grande dificuldade.”

Maria Aparecida complementa que a pesquisa revelou que alunos de odontologia às vezes nem sabem que são cores deficientes, o que também pode acontecer com médicos, por exemplo, profissões em que é necessária boa percepção de cor. A psiquiatra diz também que, como pôde ser percebido pelos questionários, “os alunos passaram quase por um processo de alfabetização emocional. Entenderam o que é depressão, o que é ansiedade, o que é uma condição de tristeza.” Foi igualmente revelado pelo trabalho que existem muitos casos de ansiedade e depressão dentre as mulheres, que também têm pior qualidade de vida em relação aos rapazes. 

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