Os adolescentes estão insatisfeitos com o próprio corpo. Essa foi a conclusão da nutricionista Greisse Viero da Silva Leal em sua tese de doutorado, defendida na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP esse ano. A pesquisadora aplicou em 1.167 adolescentes, entre 12 e 19 anos, estudantes de Escolas Técnicas do Centro Paula Souza no município de São Paulo o Questionário de Atitudes Alimentares de Adolescentes (QAAA) e constatou que 80,2% dos jovens não estão satisfeitos com o que veem quando se olham no espelho. A adolescência é uma fase da vida marcada por muitas mudanças corporais, em que a alimentação tende a ser inadequada e, quando acompanhada de um estilo de vida sedentário, aumenta o risco do desenvolvimento de excesso de peso e da insatisfação com seu próprio corpo.
Para Leal, a principal causa dessa insatisfação é o atual padrão de beleza: muito magro para as mulheres e forte para os homens. "A mídia dissemina esses padrões e os adolescentes passam a almejá-los. Só que esse padrão é inatingível, os corpos exibidos em revistas passaram por 'correções'", explica Leal. "Os jovens podem, então, buscar métodos inadequados para controlar o peso." Esses métodos podem, em conjunto com outros fatores, desencadear o aparecimento de algum transtorno alimentar (TA).
O questionário continha 72 questões e foi aplicado nos alunos entre os meses de agosto a dezembro de 2009. Os próprios adolescentes respondiam as perguntas que procuravam identificar comportamentos de risco para TA: presença de episódios de compulsão alimentar, consumo de laxantes ou diuréticos. Os jovens também deveriam responder se haviam praticado alguma ação não saudável para controle de peso como tomar remédios para emagrecer, substituir ou omitir refeições. O instrumento de pesquisa contemplava, entre outros fatores, a magnitude da insatisfação corporal, a influência da mídia no desejo de mudar a aparência e o estado nutricional, pelo cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) dos adolescentes.
Além do elevado índice de insatisfação (80,2%), a pesquisa também identificou que as adolescentes do sexo feminino, que leem revistas sobre dietas e os adolescentes do sexo masculino que sofrem maior influência da mídia e estímulo materno para a prática de dietas são os mais vulneráveis a desenvolver algum transtorno alimentar. "As meninas normalmente são estimuladas à prática de dietas restritivas e busca pelo emagrecimento, e já estão acostumadas com a cobrança, mas os meninos são também vulneráveis porque, menos expostos a discussões sobre peso, quando estimulados à pratica de dietas sofrem grande impacto", explica Leal. Um fator de risco identificado em ambos os sexos é a prática de dietas restritivas, que pode desencadear compulsão alimentar e, consequentemente, adoção de métodos não saudáveis para compensar o consumo alimentar excessivo.
A pesquisadora aponta soluções: incentivar a prática de atividades físicas que valorizem a aptidão de cada um e a alimentação balanceada, com horários regulares e consumo de alimentos de todos os tipos, de forma variada e prazerosa. "Além disso, é necessário educar os adolescentes sobre a mídia, sobre os malefícios e a ineficiência das dietas restritivas e sobre a utilização de recursos gráficos que mostram corpos irreais, por exemplo", aponta Leal. "Precisamos de pais e adolescentes que saibam reconhecer precocemente as atitudes que podem desencadear transtornos alimentares na busca de prevenção."