O Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do Instituto de Ciências Biomédicas está trabalhando em uma nova técnica para a criação de uma vacina contra a dengue. A proposta do laboratório é produzir o composto a partir de apenas uma proteína, chamada NS1. Esse tipo de vacina é mais seguro e produz menos efeitos adversos do que as vacinas tradicionais, feitas a partir do vírus inteiro em formas atenuadas. A formulação ainda está em desenvolvimento mas testes iniciais, feitos no laboratório com camundongos, mostraram que ela diminui em pelo menos 50% a contaminação por dengue.
Os pesquisadores da USP conseguiram obter a proteína NS1, que é a base da vacina, a partir de um método de clonagem em laboratório. Essa proteína não está presente no vírus e é exclusiva da célula infectada, ou seja, é produzida apenas após a contaminação do indivíduo. Ao receber a vacina, o corpo entende que esta proteína é estranha ao organismo e o sistema imunológico do indivíduo desenvolve o que os pesquisadores chamam de memória imunológica. Assim, após a vacinação, as células do sistema imune se especializam e formam uma colônia de linfócitos especializados em combater a proteína NS1. No momento da contaminação por dengue, o sistema imunológico do indivíduo vacinado promove a proliferação desses linfócitos especializados e eles então atacam as células atingidas pelo vírus.
A formulação de vacinas contra a dengue é dificultada pela alta variabilidade do vírus. Jaime Henrique Santos, doutor em Biotecnologia pela USP, estuda o vírus da dengue há seis anos e conduz junto com o professor Luis Carlos de Souza Ferreira o desenvolvimento dessa nova vacina. Jaime explica que existem quatro sorotipos do vírus da dengue, ou seja, quatro vírus diferentes que são capazes de contaminar o ser humano com a doença. A vacina para a dengue, para ser eficaz, deve ser tetravalente, ou seja, combater todos os quatro sorotipos de vírus. Isso porque a dengue secundária, ou seja, a segunda contaminação de dengue pela mesma pessoa, tende a ser muito mais grave.
“Um mesmo indivíduo nunca vai contrair o mesmo sorotipo de dengue duas vezes, porque ele já terá desenvolvido os anticorpos contra esse sorotipo. No entanto, ele pode ser vítima de outro sorotipo e essa segunda contaminação é extremamente perigosa. A vacina que estamos desenvolvendo aqui, por se basear em uma proteína que é da célula humana e não do vírus, serve para qualquer sorotipo”.
O maior perigo nas contaminações por dengue secundária é a ação dos anticorpos, que atuam combatendo o sorotipo contraído anteriormente. Esses anticorpos podem potencializar a doença, levando o indivíduo a desenvolver um quadro de dengue hemorrágica. Por conta disso, a tetravalência da vacina contra a dengue é essencial.
Praticamente todas as pesquisas de vacinas contra a dengue que estão sendo conduzidas em outros laboratórios no Brasil e no exterior produzem a formulação vacinal a partir do vírus atenuado. Os pesquisadores do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do ICB têm uma visão diferente. Eles acreditam que a linha de pesquisa seguida pela maioria dos laboratórios pode estar errada. “A ciência já conseguiu isolar o vírus da dengue há cerca de 70 anos, mas até agora não foi desenvolvida uma vacina eficaz contra a doença. Será que estamos seguindo no caminho certo?” questiona Jaime.