Um projeto desenvolvido pelo Departamento de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina (FM) da USP e o Centro de Biotecnologia do Instituto Butantan realizou pesquisas sobre a síndrome hepatopulmonar (SHP). Segundo o estudo, pacientes que sofrem dessa complicação clínica apresentam alterações proteicas no surfactante pulmonar, líquido que atua nos pulmões e gera diminuição da força necessária para inspiração e facilita a respiração.
A pesquisa de dissertação de mestrado do médico Lucas Souto Nacif, realizada com camundongos em laboratório, buscou avaliar a concentração da chamada proteína A do surfactante pulmonar (SP-A), em animais que desenvolveram a SHP. “Sabendo que o pulmão é o local de produção do surfactante, nossa hipótese foi descobrir como ele estaria nesta síndrome, mais precisamente a proteína A do surfactante”.
Foi realizado um estudo experimental com a formação de três grupos de animais, sendo um controle, um grupo denominado “sham”, de cirurgia simulada, e um apresentando um modelo experimental de síndrome hepatopulmonar. “Induzimos o desenvolvimento de cirrose e de SHP nos camundongos. Conseguimos o estabelecimento da síndrome em mais de 85% nas cirurgias realizadas. A partir desse quadro, começamos a avaliar os níveis de concentração da proteína A em cada um dos casos”.
Os resultados mostraram que a proteína A do surfactante estava presente em todos os grupos de animais. Entretanto, no grupo “sham” seus valores estiveram diminuídos tanto no soro quanto no pulmão. No grupo síndrome hepatopulmonar, o nível da proteína no pulmão estava diminuído, mas foram constatados valores similares com o grupo de controle no soro. “Dessa forma, observamos que, com o desenvolvimento da síndrome, houve uma redução na proteína A do surfactante no pulmão”.
Síndrome pouco conhecida
Nacif ressalta que os resultados obtidos na avaliação do surfactante abriram caminho para a compreensão das causas da síndrome hepatopulmonar. “Até o momento não haviam relatos de avaliação do surfactante na cirrose ou na SHP. A síndrome é formada por uma tríade: a doença hepática, a dilatação vascular intrapulmonar e a alteração dos gases no sangue”.
As causas que levam ao desenvolvimento da síndrome ainda não foram bem definidas, mas o pesquisador acredita que o projeto vá auxiliar na busca pelo melhor seguimento e tratamento dos pacientes com o diagnóstico de SHP. “A complicação atinge até 35% dos casos de cirróticos com indicação de transplante de fígado e esses pacientes apresentam considerada morbidade e mortalidade”. Ele salienta que, até o momento, apesar de vários estudos procurarem substâncias para o tratamento da síndrome, o transplante de fígado ainda é o único tratamento eficaz.