Em evento sediado no Instituto de Biociências (IB) da USP, o biólogo e perito criminal do Instituto de Criminalística de São Paulo (IC), André Peixoto, falou como as ciências biológicas contribuem para a investigação criminal.
A perícia criminal, segundo Peixoto é “uma análise técnica cujo objetivo é a verificação dos elementos materiais produzidos na prática de um crime, objetivando relacionar o delito ao autor, estabelecendo um nexo causal”. É feita pela Polícia Cientifica, que trabalha em conjunto com a Polícia Civil em investigações. Este órgão é multidisciplinar, ou seja, precisa de profissionais de várias áreas e uma delas é o biólogo.
A perícia criminal é uma aplicação evidente e importante do conhecimento científico. A partir deste trabalho, conseguem-se provas materiais, que são essenciais à investigação de crimes, por serem objetivas – em contraponto com as provas testemunhais que podem ser falhas.
As áreas de biologia que podem ser mais úteis à justiça são: a genética, a botânica e a entomologia – estudo dos insetos.
Na botânica forense, a polinologia – estudo do polén – pode ligar, por exemplo, um possível suspeito a uma determinada localidade, se houver a presença de polén na roupa dele. Deste mesmo modo, existe o estudo de algas: no caso Mércia Nakashima, um professor do IB, Carlos Bicudo, foi solicitado para fazer uma análise no calçado do suspeito e nele encontrou uma alga característica da represa em que a vítima foi encontrada morta.
Com relação ao estudo dos insetos, Peixoto afirma: “Não é feito no Instituto de Criminalística por falta de gente especializada.” A entomologia é utilizada para determinar o intervalo pós morte – chamado cronoatagnose. De acordo com o estágio de desenvolvimento do inseto que coloniza um cadáver em putrefação, pode-se determinar um intervalo. Esse estudo também pode identificar substâncias tóxicas: “Dependendo do tempo de putrefação, as análises instrumentais [de sangue] vão ser bastante prejudicadas, mas em uma larva é possível fazer um corte histológico, um tratamento e detectar a substância nela”, explica Peixoto.
A área mais conhecida da biologia forense é a genética. A partir dela, analisam sangue, saliva, sêmen e impressões digitais a fim de extrair perfis genéticos dos possíveis suspeitos. Existem diversos avanços nesse âmbito. Peixoto diz que, atualmente, já é possível extrair o DNA, e fazer o levantamento de o perfil genético de alguém a partir do toque.
O trabalho na Polícia Científica é segmentado: existem peritos que trabalham em campo e outros em laboratório, analisando os vestígios coletados em campo. O biólogo pode atuar nestas duas áreas: em campo ele pode fazer a documentação do local e busca de vestígios. Peixoto apresenta outro modo em que biólogos podem auxiliar: “Biólogo tem uma capacidade investigativa e crítica muito grande, não só o biólogo mas qualquer profissional que seja formado em área majoritariamente acadêmica. E isso é muito importante para o perito criminal pois em local de crime, temos que pensar muito rápido em todas as possibilidades que podem ter acontecido pra gerar aquele local, especialmente local de homicídio". Enquanto em laboratório, biólogos analisam os vestígios e traçam perfis genéticos destas amostras para posterior investigação.