Estudo realizado pelo Center for Organization Studies (CORS), grupo de pesquisas da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP), conjuntamente com a Universidade Paris I – (Pantheon Sorbonne) apresenta situações que levam muitas empresas brasileiras a adotarem formas variadas para obterem a principal matéria-prima utilizada em seu processo produtivo.
Maria Sylvia Macchione Saes, professora da FEA e uma das coordenadoras do projeto destaca que a adoção de formas plurais, tanto na obtenção de um insumo chave como na venda de bens ou serviços com características idênticas, é prática recorrente entre as empresas.
Contudo, a pesquisa mencionada visa apresentar o fenômeno presente apenas na obtenção de produtos primários e para demonstrar as razões desta ocorrência, cerca de 40 pesquisadores, entre professores, graduandos e pós-graduandos, se debruçaram sobre 12 setores brasileiros do agronegócio. Cada setor conta com pelo menos duas empresas dentre as quais ao menos uma faz uso de formas plurais.
A partir dos levantamentos realizados foi possível identificar algumas razões que geram a necessidade de se utilizar mais de uma forma para se obter insumos, destacando-se, dentre elas, a imprevisibilidade da oferta e demanda e a necessidade do monitoramento da qualidade do produto.
No caso relacionado às variações do mercado, a pluralidade na aquisição de matéria-prima possibilita que as empresas consigam manter um certo controle sobre seu custo, sem que fiquem sujeitas às variações de preços oriundas da escassez do produto ou das oscilações do mercado externo.
Neste ponto é necessário destacar que o país é um grande exportador de commodities – mais de 70% das exportações em 2011, das quais os produtos brutos, sem qualquer beneficiamento, corresponderam a mais de 45% no mesmo ano, segundo dados da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) – e que os preços de comercialização são determinados nas bolsas de valores, o que pode incorrer em supervalorização, elevando os custos ou reduzindo a oferta no mercado interno em virtude da atratividade das exportações.
Há também a questão da priorização de uma produção própria, em maior escala, como forma de catalisar o controle de qualidade do insumo assim como sua manutenção.
A pesquisa, ao levantar as relações de aquisição de commodities entre as organizações, atinge um objetivo secundário, porém, não menos importante, de demonstrar alternativas utilizadas por algumas empresas para minimizarem problemas que podem incidir sobre a cadeia produtiva.
Para Sylvia “o objetivo da pesquisa é explicar a escolha das empresas, não propor estratégias, porém, pode se perceber que dela se deriva estratégia”, e declara que “se uma empresa tem algumas características, tais como utiliza uma matéria-prima de grande volatilidade e necessita de uma quantidade muito grande do produto, seria recomendável utilizar formas plurais.”
Matéria-prima e diferencial competitivo
Foram incluídas na pesquisa empresas que não utilizam formas plurais, com a intenção de descrever o ambiente institucional e apresentar o cenário em que elas competem, para se demonstrar possíveis vantagens da prática de utilizações múltiplas na obtenção de insumos.
De imediato poderia se inferir que a segurança gerada pela maior probabilidade de obtenção de um material primário indispensável à produção, com controle de qualidade e de custo, traria mais confiança e estabilidade de preços, o que poderia atrair maiores contratos.
Contudo, a avaliação concreta de questões relativas à competitividade entre empresas que adotam diferentes práticas faz parte da segunda etapa da pesquisa, que já está em andamento e tem o objetivo de demonstrar o custo benefício da utilização de formas plurais.