Um projeto, desenvolvido em parceria da USP, Unifesp, diversas universidades da Europa e centros de pesquisa dos Estados Unidos, tem buscado solucionar agravamentos de quadros clínicos de pacientes com caquexia. Essa síndrome é um tipo de desnutrição aguda que leva ao emagrecimento muito rápido do indivíduo. No meio médico, ela funciona como um sinal para muitas doenças infecciosas, como câncer, aids, doença renal crônica, doenças pulmonares e outras moléstias. A caquexia aparece como responsável direta pela morte de até 40% dos pacientes que desenvolvem tumores.
As atividades tiveram início no ano de 2007 com experimentações em animais. Os pesquisadores inoculavam células tumorais em camundongos, que desenvolviam a lesão e, posteriormente, a caquexia. Segundo o pesquisador Emidio Marques de Matos Neto, membro participante do projeto, um dos principais objetivos dos estudos é descobrir as causas que levam o desenvolvimento da síndrome.
Os estudos iniciais já comprovaram que, durante processo, os camundongos desenvolveram uma inflamação, chamada inflamação sistêmica de baixa intensidade. Esse primeiro quadro é estudado como indicativo inicial da síndrome. “Observamos que a inflamação é necessária para o desenvolvimento do tumor. E nessa fase o tecido adiposo, que é a gordura do corpo, participa ativamente no aparecimento da inflamação”.
Parceria com o HU
A segunda fase do projeto está sendo executada em parceria com médicos do Hospital Universitário da USP. Os pacientes com câncer que apresentam tumores e se submeterão a processos cirúrgicos tem tecidos de gordura, dos músculos, do fígado, do intestino e do próprio tumor coletados para posterior análise dos pesquisadores. “Coletamos também amostras de fezes para verificar se uma flora intestinal desequilibrada também influencia na alteração sistêmica”. Além dos procedimentos de coleta, os pacientes respondem a questionários de avaliação da qualidade de vida e detecção de quadros de anorexia.
Resultados primários revelam que é no tecido adiposo que acontece o desenvolvimento inicial de algumas alterações e infecções que posteriormente evoluirão para quadros de caquexia. Segundo Matos, os próximos passos do projeto serão buscar métodos e terapias que melhorem o quadro de caquexia, bem como prognósticos mais eficientes. “Alguns pacientes que participam do projeto passaram a desenvolver atividades físicas. O que observamos foi que essas atividades influenciam positivamente no tratamento e aparecem como alternativa positiva de terapia”.
Os pacientes que realizavam exercícios físicos apresentaram uma redução na inflamação. Em alguns quadros, houve uma redução de até 11% do quantidade de células tumorais. “Outro ponto interessante é a manutenção do peso corporal dessas pessoas, quando normalmente ocorre a perda de peso daqueles que desenvolvem caquexia”.
Marcador prognóstico
Matos afirma que um dos principais objetivos dos estudos é encontrar um marcador que permita realizar um prognóstico eficiente de caquexia. A proposta dos pesquisadores é que esse marcador permita que os médicos diagnostiquem a caquexia em sua fase inicial, a chamada pré-caquexia. “Com esse marcador, os médicos poderão trabalhar no sentido de prevenir o paciente para que ele não evolua a doença em seu organismo, além de buscar alternativas mais acertivas de tratamento”.