ISSN 2359-5191

25/10/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 87 - Economia e Política - Escola de Artes, Ciências e Humanidades
Risco sistêmico pode ser medido em relações interbancárias
Pesquisador da EACH desenvolve software e simula crises interbancárias para entender os riscos econômicos
Sistema de crédito bancário. Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Pesquisa realizada na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP foi capaz de concluir que é possível medir o risco sistêmico interbancário. O estudo foi realizado pelo matemático Leandro Augusto Ferreira e teve como metas entender como se comporta o sistema interbancário durante uma crise, assim como medir o quanto um banco impacta o sistema ao sofrer uma falência. A dissertação de mestrado As redes complexas e o estudo do risco sistêmico no sistema financeiro, pelo programa de pós-graduação em sistemas da complexos, foi orientada pelo professor Fernando Fagundes Ferreira.

Por risco sistêmico entende-se a possibilidade que o sistema tem de sofrer grandes perdas, podendo ou não entrar em ruína. Para medir a robustez do sistema, ou seja, o quanto o sistema suporta receber impactos, o pesquisador criou um software no qual era possível simular as crises financeiras utilizando como ferramenta as redes complexas. Essas redes são capazes de representar as ligações interbancárias que se dão principalmente por meio de empréstimos, sendo assim, as crises são desencadeadas a partir da inadimplência desses bancos.

Segundo o pesquisador, um de seus objetivos de pesquisa é comparar a topologia das redes, ou seja, o jeito como os bancos interrelacionam-se. Foram utilizadas três diferentes topologias para efeito de comparação: livre de escala (scale-free), interbancária empírica, obtida por meio de estudos de diversos sistemas interbancários, e de Erdös-Rényi.

A rede de Erdös-Rényi está há mais tempo na literatura, e por isso foi escolhida para esse estudo. Nesta rede, as ligações entre os bancos são feitas de maneira aleatória, isto é, cada banco sorteia se irá ou não se relacionar com algum outro. Quando há um choque ela expõe mais bancos: por diluir os riscos entre mais instituições, há um impacto geral, porém de menor impacto.

Já as outras duas redes têm comportamentos diferentes. Com a rede livre de escala (Scale-free) e a rede interbancária empírica, uma quantidade menor de bancos sofrem o impacto, mas eles sofrem perdas maiores: “Menos bancos participam da crise, mas esses que participam estão mais suscetíveis a sofrerem perdas mais significativas.”

Robustez das redes
Com o sistema programado, ataques aleatórios eram dados a ele promovendo a propagação dos choques financeiros. Conclui-se a partir da pesquisa que a rede livre de escala é a mais robusta, sendo assim, ela oferece menor risco sistêmico. Lembrando que essa característica de maior robustez deve ser analisado com cautela, isto é, a robustez é grande quando os ataques são aleatórios, isso significa que não foram considerados ataques direcionados aos hubs, ou seja, ataques dados diretamente aos  bancos que detém a grande parte das conexões.

Para Ferreira, crises são importantes para a “limpeza” do sistema, eliminando instituições mal geridas do mercado. “Lembrando que é possível se arriscar sem correr perigo, na economia há perdas todos os dias, as instituições que oferecem perigo ao sistema devem sair do sistema permitindo que outras melhores administradas as substituam”, explica

A pesquisa começou com uma revisão bibliográfica. Após isso, o pesquisador criou um software apropriado para as suas necessidades, ou seja, que emulasse o sistema interbancário a partir da escolha de uma rede complexa e que propagasse as crises financeiras. Com tudo isso pronto, foi decidido o que seria mensurado na pesquisa e, finalmente, iniciou-se as simulações. O número de passos para a realização da pesquisa e o a grande complexidade do sistema surpreendeu Ferreira.

O Brasil ainda é um país de alta desigualdade financeira, causada principalmente por uma má gerencia de recursos. Ainda há pouco acesso ao crédito por grande parte da população. De acordo com o pesquisador, com uma melhor regulação do sistema pelo Banco Central, haveria condições de ampliar o acesso ao crédito a quem precisa de forma segura. “Os bancos são grandes intermediários financeiros, então quanto mais pessoas tiverem acesso ao crédito, mais o mercado será movimentado, gerando melhores oportunidades para a realização investimentos, assim, ajudando no crescimento da economia”, afirma.

A criação de ferramentas que ajudam no monitoramento do sistema é capaz de minimizar as preocupações e ajudar a evitar que crises aconteçam e se espalhem. Analistas usariam esse tipo de ferramenta desenvolvida na pesquisa para avaliar os riscos e regular o sistema.

Leia também...
Nesta Edição
Destaques

Educação básica é alvo de livros organizados por pesquisadores uspianos

Pesquisa testa software que melhora habilidades fundamentais para o bom desempenho escolar

Pesquisa avalia influência de supermercados na compra de alimentos ultraprocessados

Edições Anteriores
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br