ISSN 2359-5191

29/10/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 88 - Arte e Cultura - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Análise de atividades lúdicas é maneira de repensar o espaço público
Banheiras de aterros podem se tornar uma instalação lúdica, como no Nice Places Exploration Program (Foto: Divulgação)

Espaços públicos urbanos são construídos, desmontados e recriados pelas interpretações — e consequentes ações — das pessoas que neles vivem. Foi baseado nesse conceito que o Departamento de História da Arquitetura e Estética do Projeto (AUH) da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU) recebeu os professores de arquitetura da Universidade Técnica de Graz (Áustria), Daniela Brasil, Lisa Enzelhofer e Bernhard König. Convidados da X Bienal de Arquitetura de São Paulo, os pesquisadores apresentaram à comunidade USP os resultados de suas análises sobre uso dos espaços de maneira lúdica e a interatividade social.

Apropriar-se da cidade como um ambiente lúdico pode ser feito através da transformação de locais e situações corriqueiras em algo completamente novo. Esta é, em si, uma desconstrução do espaço público. Porém, quando o público começa a usufruir dessas transformações, novas interpretações podem ser feitas, o que aumenta ainda mais as reformulações do espaço. Um exemplo é o projeto Aquatopia, coidealizado por Daniela. Realizada em parceria com o escritório austríaco defensor dos direitos das crianças, Kinder Büro, a iniciativa do Instituto de Arte Contemporânea da Universidade Técnica de Graz propôs ensinar crianças sobre o bom uso da água. Para isso, além de convidar crianças a realizar trabalhos sobre os diferentes tipos de água (pluvial, dos esgotos e de abastecimento residencial), um submarino de 11 metros de comprimento por quatro metros de altura, feito com 2 mil garrafas PET, foi construído e instalado na  Praça Karmeliter, em Graz. Ambas as atividades se complementavam. "Tentamos estimular o caráter de investigar a própria cidade e seu próprio comportamento para ser aplicado no submarino", afirma Daniela.

Na instalação do submarino explorador, a praça se tornou o oceano. O lixo da praça virou a poluição aquática e vendas eram colocadas nos visitantes distantes da instalação, simulando a escuridão do leito oceânico. (Divulgação)

Porém, conforme a pesquisadora, "crianças apropriam as coisas à su a maneira. Alguns artistas ficaram bem irritados porque eles não aceitavam que seu trabalho pudesse ser interpretado de outra maneira. Uma instalação que ficava pendurada, a criança pensou que fosse um balanço". Ela, por outro lado, vê a cidade da mesma maneira: um lugar para ser usado e transformado pelas pessoas conforme o uso. O mesmo ocorreu com o projeto Rurban City. De acordo com König, é difícil inserir espaços verdes em cidades cada vez mais densas. Uma solução para esse problema é repensar os espaços verdes já existentes. O resultado foi a criação do Fruit Map, um mapa online que registra árvores frutíferas e hortas caseiras, cujos frutos seriam colhidos e usados em receitas coletivas. Um teste foi realizado no telhado do Centro Cultural São Paulo, durante a abertura da X Bienal de Arquitetura e, conforme os pesquisadores, foi apropriado pelos visitantes como um coquetel, e não como uma experiência coletiva.

As relações humanas lúdicas já foram tema de outros estudos na área do design e da arquitetura. A clássica escola alemã Bauhaus definia o lúdico como algo que leva ao prazer, que pode se refletir nos trabalhos de uma pessoa. Consequentemente, esses trabalhos têm um resultado mais interativo. Fecha-se assim um ciclo. Outro conceito do impulso lúdico que inspirou a Bauhaus foi a do filósofo Friedrich Schiller, que dizia que este unia os impulsos sensoriais e racionais. "Não podemos nunca ser só racional ou só emocional. É no ato de brincar e ser livre que esses impulsos podem se complementar", comenta Daniela.

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