São Paulo (AUN - USP) - Qualquer morador da região de Diamantina, Minas Gerais, conhece muito bem uma sempre-viva: flor muito utilizada na decoração de interiores, artesanato e arranjos, recebe esse nome porque, depois de colhida e seca, conserva sua beleza por muito tempo. Afinal, cerca de duas mil pessoas vivem exclusivamente do extrativismo dessa planta. O que elas não sabem, porém, é que a sempre-viva lá encontrada, cientificamente chamada de Syngonanthus elegans, é uma espécie endêmica, ou seja, não existe em nenhum outro lugar do mundo.
Esse é um dos problemas apontados por José Rubens Pirani em suas pesquisas. Professor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, Pirani alerta: “Como a maioria das sempre-vivas forma extensas e numerosas populações nos locais onde ocorrem e florescem juntamente, para as pessoas dali fica uma impressão de abundância. E não deixa de ser, mas é abundância restrita ao local, e, portanto, qualquer extração excessiva leva a um impacto tremendo na natureza”. No caso das sempre-vivas, há um agravante: a extração é feita nas inflorescências, ou seja, antes da produção de sementes. Assim, não é possível garantir a manutenção da espécie. Os efeitos dessa prática são previsíveis. “Desde 1985, a sempre-viva de Diamantina praticamente desapareceu do comércio”, denuncia o pesquisador.
Preocupado com essa situação, seu grupo já obteve importantes conquistas na proteção dessas espécies. Dentre elas, destaca-se o decreto e a implantação de unidades de conservação do Parque Nacional da Serra do Cipó (MG), em 1984; do Parque Nacional da Chapada Diamantina (BA), em 1988; e do Parque Estadual de Grão-Mogol (MG), em 1998.
Pirani também lidera outras pesquisas relacionadas com a vegetação neotropical. Com diversas publicações nacionais e internacionais, sua equipe vem, desde 1987, aprofundando os conhecimentos existentes sobre essa vegetação que cobre desde o México até a Argentina. “A mais rica em espécies do mundo, mas também a menos conhecida”, descreve.
Devido à extensão de seu trabalho, o grupo conta com importantes convênios, como com o Instituto de Botânica de São Paulo e com o Royal Botanic Gardens, Kew, do Reino Unido. Essas parcerias são necessárias, pois cada pesquisador costuma exercer especialidade em alguns grupos de plantas. Assim, no momento de obter a identificação correta dos materiais coletados, recorre-se à habilidade dos especialistas.
Porém, a falta de conhecimento da flora neotropical é o problema essencial apontado por Pirani. “Se nem mesmo todas as espécies são facilmente identificadas, imagine o quanto falta saber sobre o potencial de uso delas para a produção de medicamentos”. Mesmo o financiamento de importantes instituições para suas pesquisas, como CNPq, FAPESP, FINEP e WWF, tem sido insuficiente diante da grande destruição da vegetação natural. “O extermínio continua seguindo um curso muito mais rápido que os estudos”, lamenta o pesquisador.