ISSN 2359-5191

01/11/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 91 - Meio Ambiente - Instituto de Biociências
Mudanças climáticas afetam a fisiologia de peixes
Surubim do Paraíba, espécie ameaçada de extinção, pode sobreviver bem a aumento de até cinco graus Celsius em seu habitat
(Foto: Danilo Caneppele)

Em meio a previsões de mudanças climáticas, é importante conhecer a fisiologia dos animais para que se possa concretizar o projeto de conservação. Cristiéle Ribeiro, em doutorado pelo Instituto de Biociências (IB) da USP, estudou a influência da temperatura da água nas membranas celulares dos peixes da espécie Steindachneridion parahybae – mais conhecidos como Surubim do Paraíba – e concluiu que, além de ter respostas rápidas, esses peixes sobreviveriam bem à um aumento de até cinco graus Celsius em seu habitat.

Essa espécie foi escolhida por ser endêmica da bacia do Rio Paraíba do Sul e estar ameaçada de extinção. A bacia em questão compreende os Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo e tem muitas barragens para hidrelétricas, o que dificulta a sobrevivência do animal, que migra para se reproduzir, como explica Cristiéle: “Ele só consegue se reproduzir quando chega na cabeceira do rio ou em algum outro local que seja propício, e quando existem barragens, elas impedem a reprodução do animal.”

Para realizar a pesquisa, Cristiéle expôs os peixes, coletados em cativeiro, a quatro temperaturas de água diferentes: 12, 17, 24 e 30 graus Celsius. Ela escolheu este intervalo – entre 12 e 30 graus Celsius – por ser a amplitude térmica verificada na bacia em que o animal vive. Diante destas temperaturas, foram realizadas duas experiências com os peixes, um chamado de tratamento crônico, em que os animais estudados passaram por essa variação térmica em um mês – mais parecido com o que acontece na natureza – , e o tratamento agudo, onde os peixes passaram por toda essa amplitude em apenas cinco dias.

(Surubim do Paraíba. Foto: Andreone Medrado)

As membranas foram escolhidas para serem estudadas por que regulam a entrada e saída de qualquer substância da célula, então Cristiéle buscou compreender como essa estrutura se altera para manter o equilíbrio celular frente à mudanças no meio . Ela percebeu que há uma remodelação física dos componentes da membrana celular – fosfolipídeos –, em ambos os experimentos, para torná-la mais ou menos permeável: “As respostas foram reativas, no tratamento agudo, quando rapidamente mudamos a temperatura, os animais já responderam. Isso é bom para o animal em um ambiente que passe por tantas condições diferentes”, explica. Em altas temperaturas, as mudanças não foram tão drásticas e não prejudicaram o animal, mas a pesquisa concluiu que 12 graus Celsius é letal ao animal e, portanto, ele não deve passar por áreas tão frias.

A análise foi feita nas membranas celulares de três tecidos diferentes: o encefálico, do fígado e das brânquias. O tecido encefálico foi o mais preservado dos três: “As funções cerebrais são muito importantes para a própria regulação fisiológica do animal”, explica Cristiéle, e por isso não podem ser tão alteradas.

Já as brânquias, o primeiro órgão a ter contato com o meio, refletiu intensamente as variações, como conta a pesquisadora: “Nas menores temperaturas eu percebi tantas mudanças, que elas chegaram a ficar macroscópicas. A estrutura branquial mudou”. A principal estrutura de captação de oxigênio, as lamelas secundárias, não estavam presentes nos peixes, depois de expostos à menor temperatura: “A captação de oxigênio foi totalmente prejudicada e esses animais morreram”, afirma. O tecido do fígado é um órgão rápido em resposta, e também sofreu bastantes modificações, em especial nas temperaturas mais baixas. Nestas condições, além das mudanças nas membranas, o órgão aumentou seu tamanho como resposta ao aumento da demanda metabólica

Cristiéle destaca a importância de sua pesquisa: “Em peixes de clima tropical, quase não existem trabalhos com membranas, só em animais de clima temperado, no hemisfério norte”. O conhecimento da fisiologia do Surubim do Paraíba também contribui para o projeto de repovoamento que consiste em criá-lo em cativeiro e depois liberá-lo na natureza, a fim de repovoar áreas em que a espécie não existe mais, que é o caso do Estado de São Paulo.

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