Uma pesquisa da Faculdade de Medicina (FM) da USP revelou que 75% dos jovens que estão em fase de namoro já presenciaram algum tipo de violência dentro do relacionamento. O estudo do Departamento de Medicina Preventiva mostrou ainda que a violência psicológica - como xingamentos e ameaças - é a forma mais comum de ataque utilizada pelo agressor, acompanhada em segundo plano pelas violências física e sexual.
O levantamento identificou que homens e mulheres não apresentaram distinção entre ser vítima ou agressor. Para a psicóloga Tania Aldrighi Flake, autora do estudo, esse dado significa “que as pessoas não são exclusivamente agressores ou vítimas, mas que elas são agredidas e agridem simultaneamente”.
O projeto é parte de um censo mundial chamado International Dating Violence (Estudo internacional de violência no namoro), coordenado pelo norte-americano Murray A. Straus, que inclui 38 países ao redor do mundo. No Brasil, 362 jovens, alunos de duas universidades do estado de São Paulo, participaram do levantamento. Nesse processo, os jovens responderam individualmente questionários que abordavam pontos de caracterização dos relacionamentos, da situação socioeconômica, de personalidade, o convívio do casal, além de questões específicas da realidade de cada país.
Tania afirma que a principal proposta do estudo é identificar o quanto esse fenômeno da violência está presente dentro do contexto dos jovens em todo o globo. “Queríamos observar a extensão do fenômeno, do tipo de violencia, seja ela física, psicológica, verbal ou sexual, e os danos causados por ela”. Ela afirma que a proposta de Straus é de “observar que a violência conjugal vai além de classes econômicas e não aparece apenas em pequenos grupos”.
Segundo a pesquisadora, outro dado importante do levantamento está relacionado ao ambiente onde a violência é executada. Enquanto no casamento as agressões ocorrem majoritariamente em ambientes privados, no namoro essas práticas ganham o espaço público, acontecendo em 55% dos casos na frente de amigos e nos ambientes escolares. “Vale ressaltar que, embora aconteçam na intimidade do casal, os casos de violência no casamento são mais graves e com maiores danos morais e físicos”.
Conscientização
Tania acredita que uma das principais contribuições do estudo está na conscientização da sociedade como um todo de que a violência está fortemente presente no namoro. “A grande questão da violência no namoro é que ela não é reconhecida como violência. Muitos atos são tidos como prova de amor, e isso abre margem para que aconteçam mais vezes”.
Nas pesquisas, 30% dos jovens participantes não responderam exclusivamente as perguntas relacionadas à violência. “Esse é um dado de pesquisa importante, pois nos faz pensar que tanto agressor quanto vítima, quando se deparam com a situação de denúncia, eles recuam”. A pesquisadora ressalta que “alguns tabus sociais também dificultem esse processo de aceitação da violência, como, por exemplo o fato do homem não conseguir reconhecer ter sido agredido por uma mulher, indo contra a sua masculinidade”.