A existência de dois padrões morfológicos de crânios de humanos pré-históricos na América do Sul foi verificada em estudos realizados no Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos (LEEH), do Instituto de Biociências (IB), da USP. A partir disso concluíram que houve dois pacotes biológicos no continente: um mais próximo dos africanos e dos australo melanésios – provenientes da Melanésia, região da Oceania –, e outro mais semelhante ao padrão asiático.
Conforme o homem evoluiu cronologicamente e se afastou do seu lugar de surgimento – o continente africano – sua morfologia foi se modificando, até atingir um nível mais especializado. Diante disso, pode-se chamar o primeiro grupo de generalizado e o segundo de especializado, de acordo com Danilo Vicensotto Bernardo, pesquisador do LEEH.
Em pesquisas feitas pelo LEEH, Bernardo reforçou os estudos na área de evolução e usou em seu estudo as medidas de várias partes de crânios pré-históricos que visam refletir a forma de cada um deles, a sua morfologia.
Ao analisar não só as medidas de crânios humanos, mas também como essas se relacionam, Bernardo também percebeu que a passagem do padrão biológico mais generalizado para o mais especializado, e mais próximo cronologicamente de hoje, não teve nenhuma ruptura drástica: “Se estendermos todos os crânios de todos humanos, que viveram até hoje, em uma mesa, vamos ver uma mudança gradual do absolutamente generalizado até o absolutamente especializado”.
A variação das características humanas ao longo do tempo, na pré-história, segue o modelo que forma um gráfico inclinado decrescente com relação ao tempo – chamado de clina –, no qual as mudanças são graduais, formando um gráfico inclinado decrescente com relação o tempo: “Existe um estoque populacional com toda a variação e à medida que o tempo passa essa variação decresce”, explica Bernardo. Até então, era acreditado que tanto a variação genética quanto da morfologia do crânio humano respondiam a esse padrão.
Em seu mestrado, Bernardo trabalhou com um banco de 9 mil crânios e, atribuiu à essa grande quantidade – três vezes maior do que o laboratório já havia estudado – o fato de ter encontrado picos de variação morfológica dos crânios, dentro do padrão de clina. Então, para o doutorado, o pesquisador procurou modos de testar qual o motivo desse episódio identificado na história da evolução humana. Para Bernardo a principal razão encontrada para explicá-lo é o fato de o crânio responder de uma forma diferente dos genes às forças evolutivas.
A maioria das características humanas evoluiu, ao longo do tempo, sem a interferência externa – chamada de evolução neutra. Segundo o pesquisador, a hipótese mais provável é que algumas porções do crânio respondem de maneira seletiva – ou seja, características selecionadas por meio da seleção natural – à evolução: “Isso explica por que no geral ele obedece a essa clina, mas em algumas questões específicas, aumente a variação”, afirma.
Na seleção natural, o clima é um dos fatores que mais interfere na evolução, direta ou indiretamente, porque pode afetar a oferta alimentar, por exemplo, e diante desse fator, Bernardo explica: “Ao que se dispersa no ambiente, cai a variabilidade [da espécie], mas conforme o clima, por exemplo, atua nessas populações, favorece com que novas variações tenham melhor ou pior desempenho, então aumenta a variação.”