ISSN 2359-5191

05/11/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 93 - Economia e Política - Instituto de Relações Internacionais
Minorias no Ocidente indicam caminho das sociedades muçulmanas
Fonte: Wikimedia Commons

Minorias muçulmanas em países ocidentais vivem o confronto do Islã com a modernidade. E a maneira como essas comunidades se desenvolvem no meio de tudo isso pode indicar o caminho que seguirão as demais sociedades muçulmanas dentro dos próprios países em que são maioria. É o que notou, em pesquisa, Peter Robert Demant, professor do Instituto de Relações Internacionais (IRI/USP) e do Departamento de História (FFLCH/USP). A diferença se daria pela maior liberdade de expressão e organização tanto de intelectuais moderados quanto muçulmanos radicais nos países Ocidentais.

A questão da convivência entre muçulmanos e a população autóctone é uma das principais pautas políticas e sociais gerais dos países europeus. A discussão é recorrente, seja em veículos midiáticos ou políticas públicas para imigrantes, e tende a apresentar diferentes frentes, que ora tendem a integrá-los ora apresentam fortes elementos de xenofobia e de islamofobia.

É visível que, nesse processo, o que chega à sociedade Ocidental é a questão analisada, majoritariamente, do lado europeu dessa interação de culturas, em que questões de identidade dentro da comunidade europeia e como lidar com o outro e com os imigrantes são frequentes. No entanto, os muçulmanos apresentam seus próprios conflitos existenciais.

Esses grupos apresentam posição política e social delicada. São milhões de muçulmanos vivendo nos países europeus, nos Estados Unidos e menos na América Latina. Em países como França, Inglaterra e Alemanha, chegaram como trabalhadores temporários e acabaram trazendo suas famílias e se estabelecendo como componentes permanentes dessas sociedades. Hoje, seus descendentes têm de conviver com constantes choques culturais e repensar sua identidade. “Como eu posso e devo viver em uma sociedade onde sou uma minoria e que dificilmente aceita minha religião, minha identidade?”, exemplifica Demant.

Outras duas consequências surgem da situação dessas comunidades. A primeira é que há relativamente mais intelectuais muçulmanos progressistas nesses países do que em Estados de maioria muçulmana. “Essas minorias muçulmanas estão em uma situação estratégica muito interessante. Elas vivem o confronto com o Ocidente de forma muito mais imediata”. Na geração atual, que é fluente nas línguas dos países em que vivem, há muitas pessoas que entram na política ou na academia.

A segunda consequência, bastante paradoxal, é que, pela maior liberdade de expressão e organização em países ocidentais, grupos mais radicais que são reprimidos nos países muçulmanos também podem, às vezes, se organizar melhor ou se expressar melhor no Ocidente. “Infelizmente esses jihadistas ‘locais’ nutrem o ódio de muitos europeus aos muçulmanos em geral”.

A pesquisa de Demant, Os Muçulmanos no Ocidente: O Debate Sobre Minorias Muçulmanas na Europa, baseia-se em leitura e análise de diversas teorias e em entrevistas realizadas durante passagens pela Europa. 

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