Na última quarta-feira (30), o economista britânico Tim Jackson apresentou a proposta presente em seu livro Prosperidade sem Crescimento, que acaba de ser lançado no Brasil. A exposição foi promovida pelo Grupo de Estudos de Meio Ambiente e Sociedade do Instituto de Estudos Avançados, em parceria com o selo Planeta Sustentável, e aconteceu na FEA (Faculdade de Economia e Administração). Samuel Pessoa, professor da FGV e colunista da Folha de S. Paulo, teceu comentários sobre a tese do economista e Pedro Roberto Jacobi mediou a discussão.
Jackson deu início a exposição citando uma piada que diz que os economistas sabem “o preço de tudo e o valor de nada”. Seguindo a linha dessa crítica, em Prosperidade sem Crescimento, o economista discorre a tese central do livro: é impossível a humanidade continuar a crescer economicamente seguindo o modelo das economias ocidentais. Esse descompasso tem como resultado a produção de dióxido de carbono em excesso, que contribui para o aquecimento global. Para ele, a chave da prosperidade encontra-se em incluir o meio ambiente nos negócios, expressão que ele chamou de “chasing green growth” (alcançar o crescimento verde).
Jackson também afirma que o mundo de hoje está em um patamar diferenciado e critica o modelo econômico atual, que não condiz com esse momento. Mesmo depois de crises como a de 2008, ele ainda é calcado no incentivo ao consumo (alguém fornece e alguém compra), iniciativa que provocou a crise, quando, na verdade, deveria-se priorizar o investimento em desenvolver formas sustentáveis de crescimento. “O capitalismo progride destruindo o velho a serviço do novo. Os humanos adoram consumir coisas novas”. Esse desejo seria moldado socialmente, não havendo benefícios em continuar a seguir um padrão de crescimento econômico centrado no consumismo. “Vivemos em uma sociedade em que o consumidor foi obrigado a pedir emprestado [dos bancos] para consumir”.
Para resolver as problemáticas lançadas, o britânico sugere que o sistema de contas nacionais (que consiste na maneira de medir produção, consumo e investimento de um país) seja refeito, pois não se considera o impacto de ações sobre o meio ambiente e isso deveria ser feito. Jackson sugere também que se limitem as emissões de dióxido de carbono e que se façam políticas públicas que desestimulem o consumo. Estamos estimulando o mesmo padrão de consumo privado que em última instância foi o que causou a crise, por meio de excessos no mercado de crédito, e que do ponto de vista de longo prazo é ambientalmente insustentável.
Pessoa argumentou o porque não estar convencido com a principal tese do livro, apesar de concordar com outras proposições de Jackson. Para ele, a questão principal não é o crescimento, mas sim na falha de mercado. “É perfeitamente possível imaginar sociedades que crescem pouco e que produzem ainda maiores desequilíbrios ambientais. Este era o caso, por exemplo, das economias socialistas antes da queda do muro de Berlim em 1989”. Se tais falhas forem corrigidas, o progresso tecnológico resolveria o problema da prosperidade econômica.
“Prosperidade sem Crescimento”, de Tim Jackson, está a venda na Livraria Cultura, na Livraria da Vila e em e-book no IBA.