Camundongos machos, ao conviver com um companheiro doente por período prolongado, não têm alterações no seu comportamento. Foi o que comprovou a pesquisa realizada por Thalita Rodrigues Michelucci Machado, na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ). A USP é a única Universidade brasileira a conduzir experimentos com animais nessa área.
“Existem bastantes estudos sendo realizados com humanos, os chamados caregivers, pessoas que se dedicam a cuidar de doentes em estado terminal ou casos como Alzheimer, por exemplo”, conta Thalita. O estresse causado pela situação leva a uma queda de imunidade nos humanos, o que levou a FMVZ a iniciar uma pesquisa na mesma área para comprovar resultados com animais.
Convivência com companheiro doente
A princípio, foi realizado um teste com camundongos fêmeas, “porque não brigam, é mais fácil de trabalhar com elas”, afirma. Os experimentos confirmaram que o estresse de conviver com outro animal doente levava também a uma queda de imunidade, além de alterações no comportamento das fêmeas saudáveis.
Thalita trabalhou especificamente com os machos da espécie. Durante o estudo, os animais conviviam inicialmente durante sete dias numa gaiola para adaptação. Em seguida, um tumor era inoculado em um dos camundongos e eles conviviam outros 11 dias juntos. Após esse período, o roedor saudável passava por uma bateria de testes.
“Detectamos que a reação dos machos é diferente”, revela. Neles, o estresse comportamental não pode ser detectado, ou seja, o animal agia da mesma forma que o grupo de controle. O que se percebeu foi uma alteração na atividade dos neutrófilos – que são as primeiras células de defesa que o corpo estimula numa situação de estresse – no entanto, essa alteração é menos intensa do que nas fêmeas. O odor do doente é um fator fundamental no estresse. Apesar de não perceptível para os humanos, a urina do animal doente ganha um cheiro diferente, que afeta o animal saudável.
Situação de estresse nos camundongos
“A fêmea passa por um estresse duplo: na natureza, ela é a responsável por cuidar da prole e, para isso, ela precisa estar saudável, ou seja, não é viável que ela fique doente”, revela. “Ademais, numa comunidade de roedores, as fêmeas cooperam umas com as outras na criação dos filhotes e perder a parceira não é positivo.” Por outro lado, no caso dos machos, é vantajoso que um outro camundongo adoeça pois, em uma hierarquia, é possível tomar o lugar do outro.
“Tudo é voltado para a parte reprodutiva”, diferente dos seres humanos, os roedores não se afetam sentimentalmente por conta da doença. “No começo do estudo, tínhamos o costume de chamar os animais de caregivers, mas quando descobrimos que o odor é um fator decisivo para o estresse dos animais, paramos.”
Após os 11 dias, inoculou-se tumor em todos os animais usados no experimento, tanto o grupo controle quanto o grupo teste. “Descobrimos que essa queda de imunidade crônica faz com que o tumor se desenvolva mais rápido.” O grupo de controle, que não estava estressado, não teve um desenvolvimento tão relevante do tumor quanto os experimentais. “Caso haja uma predisposição ao tumor, ele se desenvolverá mais rápido."