O programa Bolsa Família tem um impacto positivo na alimentação das famílias beneficiadas. Quando comparadas com famílias que não recebem o benefício, as famílias incluídas no Programa gastam mais com alimentação. Essa foi a conclusão da tese de Doutorado da nutricionista Ana Paula Bortoletto Martins, defendida em junho desse ano, pela Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP. “O que eu encontrei no meu estudo é que as famílias que recebem o auxílio tem um gasto maior com alimentação”, diz Ana Paula. “Além de gastar mais, o tipo de alimento que elas compram são considerados saudáveis, na sua maioria, como hortaliças e carne”. Ela comparou os gastos com alimentação entre famílias que recebem o benefício e famílias que não recebem.
Para chegar a essa conclusão, Ana Paula utilizou dados da Pesquisa de Orçamentos Famílias (POF) do IBGE. A POF coleta dados de uma amostra de domicílios brasileiros suficientes para que os números encontrados sejam representativos do Brasil todo. Os agentes do IBGE passam uma semana com as famílias selecionadas e registram tudo que se compra nesse período. Ana utilizou dados coletados entre 2008 e 2009. Além de conter informações sobre os hábitos de consumo, o banco de dados da POF guarda informações sobre as características sociodemográficas das famílias: composição familiar por sexo e idade, acesso à água encanada, região onde moram e renda, entre outros fatores. No fator renda, as famílias respondem se são beneficiadas pelo Bolsa Família e quanto recebem do Programa. Com os dados em mãos, Ana Paula pôde, a partir de análise estatística, identificar famílias que são semelhantes em todas as características, exceto estar incluída ou não no Bolsa Família. “Dessa maneira, garanti que a diferença [de consumo] encontrada foi de fato por causa do auxílio”, explica Ana Paula.
Alimentação Diversificada
A diferença média do gasto per capita semanal com alimentação foi de R$0,57 a mais entre os beneficiados pelo programa. A maior parte desse gasto foi com alimentos in natura ou minimamente processados. Além de serem considerados mais saudáveis, a aquisição desses produtos é importante porque diversifica a dieta dessas pessoas. “Famílias de baixa renda tem uma alimentação muito monótona, baseada só em farinha, açúcar, óleo, que são ingredientes baratos e de fácil acesso, além do arroz e do feijão”, explica Ana Paula. Outros alimentos com hortaliças, frutas e carnes são mais caros e nem sempre o acesso a eles é fácil. O aumento nos gastos é traduzido em aumento da quantidade de calorias ingeridas e, segundo Ana Paula esse é um aspecto positivo do programa. “As famílias de baixa renda consomem menos calorias do que a média, então é bom que esse consumo tenha aumentado um pouco”, diz.
Ação Social
A pesquisa também apontou que não houve diferença no consumo de produtos alimentícios, aqueles que são elaborados pela indústria e que levam poucos ingredientes frescos em sua preparação: as bolachas, os temperos prontos, os embutidos. Essa conclusão é importante, segundo Ana Paula. “ Fala-se que quem tem o Bolsa Família só gasta comprando porcaria, bolacha recheada ou até bebida alcoólica”, diz. Mas a pesquisa comprova que esse não é o padrão de consumo das famílias. “Não teria motivo para pensar que porque essas pessoas estão ganhando R$100 ou R$200 a mais elas vão querer só refrigerante e bolacha recheada. Elas vão consumir isso também, como todas as outras famílias”.